Título: Tucanos vivem o desafio de escolher entre Serra e Alckmin sem deixar seqüelas
Autor: Ilimar Franco e Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 22/01/2006, O País, p. 3

Uma contradição tomou conta do PSDB e o principal partido de oposição vive um impasse perigoso. O candidato que os eleitores querem, segundo as pesquisas de intenções de voto, é o prefeito de São Paulo, José Serra, mas o candidato que os parlamentares preferem é o governador Geraldo Alckmin (SP). Os tucanos ainda estão tendo de digerir a recuperação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que voltou a liderar a disputa no primeiro turno, na última pesquisa do Ibope.

O desafio do PSDB nos próximos dois meses é escolher um nome sem deixar seqüelas que dividam o partido e contaminem a campanha. Por isso, três critérios vão nortear a decisão: desempenho nas pesquisas, apoio dos aliados e aceitação entre os tucanos.

¿ Estou preocupado com a disputa interna, embora Serra e Alckmin sejam responsáveis e tenham consciência da importância da unidade do PSDB. Até março o PSDB terá de definir seu candidato por aclamação ¿ disse o senador Teotônio Vilela Filho (PSDB-AL), ex-presidente da legenda.

Apesar da pressão interna, a cúpula tucana decidiu que não antecipará a escolha. As conversas serão comandadas pelo presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), e pelo ex-presidente Fernando Henrique. Os tucanos querem ganhar tempo, esperando que a decantação do quadro político defina o melhor nome para enfrentar Lula. As consultas começarão formalmente no próximo fim de semana, quando Fernando Henrique retorna ao Brasil.

¿ É sempre bom ter um termômetro da bancada (referindo-se à enquete feita pelo GLOBO), pois isso ajuda na escolha. Mas nosso critério é claro: o candidato será aquele que tiver condições de derrotar o candidato oficial ¿ afirma o líder no Senado, Arthur Virgilio (AM).

¿Não somos aventureiros¿

A dúvida é saber se Alckmin tem condições de ser competitivo, capaz de impedir a reeleição de Lula. Se os tucanos chegarem à conclusão de que Alckmin não conseguirá, o candidato será Serra, e o partido arcará com o desgaste de abandonar quase três anos na prefeitura de São Paulo. Se preferirem Alckmin, os tucanos concordam que sua candidatura sairá mais barata do ponto de vista eleitoral.

¿ Tínhamos um candidato, o Serra, agora temos dois. Mas não há hipótese de se abrir uma disputa, esse partido tem comando. Não é um partido de aventureiros. Quando concluirmos que o candidato A é viável, será o candidato e ponto final ¿ diz o governador Aécio Neves (MG).

Os tucanos não pretendem mesmo fazer nenhuma pré-convenção ou prévia. Consideram que seria expor a divisão com seqüelas que levariam a um inevitável impasse.

A enquete realizada pelo GLOBO com bancada no PSDB ¿ com 33 votos para Alckmin e 22 para Serra ¿ e a pesquisa Ibope sobre a sucessão, segundo líderes, mudaram o quadro. Agora Alckmin se fortaleceu, ao mesmo tempo em que Lula mostra sinais de vitalidade eleitoral. Entre os tucanos já não há quem afirme que as eleições estão no papo, como diziam no auge da crise do mensalão. Embalado pelos 17% (em alguns cenários chega a 19%) de intenção de votos em um primeiro turno registrados na pesquisa Ibope, Alckmin avalia que já não há dúvida de que sua candidatura levará o partido à vitória:

¿ É natural que meu nome esteja atrás do Serra nas pesquisas. É como comparar o governador Germano Rigotto e o ex-governador Anthony Garotinho, no PMDB. Um já disputou uma eleição nacional, o outro não. Só ficarei conhecido no horário de propaganda gratuita. .