Título: ENCONTRO DE ITAMAR E AÉCIO MARCA INÍCIO DA LUTA POR PALANQUES DE MINAS
Autor: Bernardo de La Peña
Fonte: O Globo, 22/01/2006, O País, p. 4

Articulações intrincadas marcam disputa no estado com 10% dos eleitores do país

BRASÍLIA. Com dois políticos que já ocuparam a cadeira de presidente da República disputando espaço e um governador forte em busca da reeleição, as negociações para formar os palanques nas eleições de Minas Gerais, onde estão 13,3 milhões de eleitores ou 10% do eleitorado brasileiro, começam na quarta-feira em um almoço do governador Aécio Neves com o ex-presidente Itamar Franco (PMDB). Além de Itamar, aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva até poucos meses atrás, outros dois políticos com função no governo petista ¿ o vice José Alencar e o ministro Saraiva Felipe (Saúde) ¿ são personagens dessas intrincadas articulações mineiras.

As apostas no Palácio das Mangabeiras são de que Itamar Franco, agora um crítico do governo Lula, acabará fechando com Aécio uma aliança, ainda que branca, para disputar uma vaga ao Senado.

O PT, que tem como opção disputar o governo do estado com o ex-secretário nacional de Direitos Humanos Nilmário Miranda, ainda tenta atrair o apoio do PMDB, justamente com o argumento de que dois peemedebistas mineiros ocupam hoje ministérios do governo Lula ¿ além de Felipe, o senador Hélio Costa é titular do Ministério das Comunicações. Mas os tucanos de Minas acreditam que o velho PMDB vai optar pela candidatura com mais chance de vitória.

Troca de partido prejudica Alencar

Em meio a todas especulações e articulações, uma variável importante para as eleições no estado ainda não está definida: que cargo o vice-presidente José Alencar deve disputar? Com a força política e empresarial que consolidou em Minas, Alencar seria naturalmente um candidato forte a qualquer cargo, mas pode estar perdendo essa oportunidade por conta das trocas de partido ¿ do PMDB para o PL, e do PL para o recém-criado PMR ¿ e da dificuldade de compor com Itamar e Aécio.

Segundo aliados, Alencar, que é também ministro da Defesa, está disposto a se afastar do cargo até o dia 31 de março, prazo de desincompatibilização para políticos que vão disputar as eleições deste ano deixarem cargos no Executivo. Mas o futuro do vice ainda é incerto. Tem muitas opções e pode ficar sem nenhuma, dizem experientes políticos mineiros que circulam no Congresso.

¿ Pela unidade de Minas, ele poderia abrir mão de alguma pretensão. Mas no partido (PMR) ele tem três alternativas: o Senado, o governo de Minas ou a Presidência da República ¿ confirma um auxiliar do vice-presidente.

Em Minas, entre os aliados de Aécio, a expectativa é de que Alencar só dispute o Senado se Itamar estiver fora dessa corrida. Os políticos locais dizem que o vice-presidente espera ainda por um convite de Lula para repetir a chapa que em 2002 levou os dois ao Palácio do Planalto. Mas os petistas, por outro lado, lembram que o Lula de 2006 não precisa mais da companhia de um empresário em sua chapa para convencer o mercado de sua responsabilidade fiscal. Ciente dessas dificuldades, Alencar admite até deixar a vida pública.

Aécio diz que só decide em março

Bem nas pesquisas e assediado por todos os lados, Aécio não tem pressa:

¿ Só vou tratar de alianças e da definição da minha candidatura em março. Os apoios que quero são os daqueles que acham que o nosso projeto é bom para Minas Gerais ¿ diz.

Segundo maior estado do país em número de eleitores, um bom palanque em Minas é fundamental para os candidatos à Presidência. E embora também tenha sido cotado para ser o candidato tucano ao Planalto, Aécio tem atuado como bombeiro na disputa entre o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o prefeito de São Paulo, José Serra. E garante que isso não vai prejudicar a campanha.

¿ O importante é que o PSDB não tem aventureiro. Quando houver uma decisão, ela será respeitada e terá o apoio de todos, inclusive do outro candidato ¿ afirma o governador.

Desde que voltou de Roma, onde foi embaixador do Brasil nos últimos três anos, Itamar vive em Juiz de Fora, onde despacha três vezes por semana no Instituto Itamar Franco, para o qual foi doado o acervo do seu período na Presidência. Lá, o ex-presidente mantém uma intensa agenda política, recebendo prefeitos, deputados e os potenciais aliados. Teve, inclusive, um encontro com o ex-deputado José Dirceu, depois que ele teve o mandato cassado.

Se as conversas com Aécio Neves progredirem a partir da próxima quarta-feira, Itamar Franco vai insistir na indicação do ministro Saraiva Felipe, presidente do PMDB mineiro e um dos seus principais interlocutores para a vaga, como vice do tucano. Mesmo espaço que o PFL, do vice-governador Clésio Andrade, também quer.

Os pefelistas, porém, estão em desvantagem. Além de Clésio ¿ que andou pregando susto no PFL por causa de sua sociedade com Marcos Valério de Souza na DNA ¿ outro nome do partido de expressão no estado, o deputado Roberto Brant (PFL), pode ter seu mandato cassado por ter recebido R$102 mil de doação da Usiminas, por meio do valerioduto.