Título: PROVA DOS NOVES
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Fonte: O Globo, 22/01/2006, Opinião, p. 6

Oque foi motivo de dissabores para o governo no final de 2003, quando pessoas idosas se viram forçadas a responder ao recenseamento do INSS pessoalmente nos postos de atendimento, pode agora reservar grata surpresa para os responsáveis pelas contas públicas.

O método do censo terminou revisto, para evitar o deslocamento penoso de pessoas debilitadas. Os segurados da Previdência passaram a responder ao recadastramento nos bancos em que recebem os benefícios. Mas, melhor do que o aparente êxito da operação, é a possibilidade de uma parcela considerável do déficit previdenciário vir a ser reduzida pela recontagem dos beneficiários do sistema.

Reportagem do jornal ¿Valor¿ chegou a estimar em até 15% o corte nos gastos do INSS, o equivalente a R$20 bilhões, ou 1% do PIB. Isso significaria abater o déficit da Previdência, o mais grave problema fiscal do país, para 1,7% do PIB ¿ um feito memorável, histórico.

Porém, há técnicos experientes, também ouvidos pelo jornal, céticos sobre esses números. Por exemplo, José Cechin, ex-ministro da Previdência, lembrou que recontagem idêntica foi feita na década de 90 sem grande sucesso fiscal.

Pode ser que nem de longe se chegue ao resultado estimado. Mas, dada a incompetência administrativa do INSS ¿ uma máquina emperrada, dominada por interesses de corporações de funcionários públicos ¿ são grandes as chances de se alcançar alguma economia ponderável na revisão dos cadastros previdenciários. Por um caminho direto: pelo cancelamento de benefícios pagos de forma indevida por causa de falhas no sistema, ou por fraudes.

Como os números no INSS são mastodônticos, qualquer economia, mesmo proporcionalmente pequena, é bem-vinda. São ao todo mais de 23 milhões de pessoas cadastradas para receber diversos benefícios. A recontagem, encerrada inicialmente em dezembro, foi prorrogada por causa do baixo índice de retorno (45% das pessoas ainda não haviam se apresentado). Daí o otimismo com as projeções de economia. Porém, mesmo que os pessimistas tenham razão, o pente-fino nos registros do INSS já será um avanço na defesa do bom uso do dinheiro do contribuinte. Deve ser feito com mais freqüência, enquanto não se saneia administrativamente o sistema.