Título: UMA PORTA ÚNICA PARA O COMPLEXO DE BANGU
Autor: Cristiane de Cássia
Fonte: O Globo, 22/01/2006, Rio, p. 15
Daqui a três meses, presídio controlará entrada de veículos, com sistema de revista do chassis e corta-pneus
O cinturão de segurança máxima formado por cinco presídios dentro do Complexo Penitenciário de Bangu será ainda mais rigoroso em 90 dias. Está sendo construída no local uma portaria única, pela qual só passarão os carros oficiais e onde haverá um sistema de revista por baixo dos veículos. Um corta-pneus será acionado caso outros veículos tentem passar. Os guardas que trabalham naquela área vão deixar os carros do lado de fora, trocarão de roupa num alojamento externo e vão entrar no cinturão somente de uniforme, passando por um aparelho de raio X e detector de metais.
A portaria única vai abrigar ainda uma central de monitoramento, que até o fim do ano deverá contar com 82 câmeras. Hoje o complexo tem 32 câmeras, sem contar com as de Bangu I. São 22 em Bangu III e dez nas proximidades. Os guardas das cinco unidades de segurança máxima trabalham de forma rotativa há um ano. Eles são informados em qual presídio estão de serviço quando chegam. Essa é uma das medidas que levaram a Secretaria de Administração Penitenciária a comemorar, quinta-feira, dois anos sem rebeliões em Bangu. O último motim no complexo aconteceu em 19 de janeiro de 2004, na Casa de Custódia Bangu C.
¿ Há vários fatores que levam a essa tranqüilidade. Alguns são mais aparentes, como os bloqueadores de celular, as câmeras e a criação do Grupamento de Intervenções Táticas (GIT) para agir em rebeliões com armas não-letais. Outras são menos percebidas, mas previnem problemas, como a criação do Cispen (serviço de inteligência) e o mutirão jurídico ¿ explica o secretário de Administração Penitenciária, Astério Pereira dos Santos.
Os investimentos tecnológicos contra fugas, como os sensores de presença nas cercas do cinturão de segurança, são considerados de extrema importância para a tranqüilidade dos presídios. Segundo o coordenador geral de segurança do sistema penitenciário, César Rubens Monteiro de Carvalho, os motins geralmente começam com tentativas de fuga frustradas.
Outro fator importante é a localização das cozinhas dentro do cinturão de segurança, mas fora dos presídios. A comida está sempre fresca e a qualidade é garantida pelas inspeções feitas por nutricionistas da Uerj. Além disso, um agente supervisiona os serviços, evitando que facas e outros objetos que possam ser usados numa rebelião entrem com as quentinhas.
As vistorias também têm sido mais freqüentes e aprimoradas. Até uma câmera blindada com iluminação própria está sendo utilizada para vistorias nos sistemas de esgoto. Com ela, os agentes descobriram em setembro a extensão exata de um túnel antigo e puderam acabar com ele. O rigor faz com que muitos presos desistam de levar armas para os presídios. Nos últimos dois anos, em todo o complexo, foram encontradas 12 armas, ao passo que nos dois anos anteriores, só em Bangu III, foram achadas 11 armas e 20 granadas.
Medidas estratégicas também são destacadas pelos agentes como fator para dificultar as rebeliões. Uma delas é a transformação de Bangu III numa unidade só para abrigar chefes do tráfico de drogas. Num esquema de segurança parecido com o de Bangu I, esses traficantes ficam isolados dos demais presos.
Outras ações não são dirigidas aos presos, mas sim para suas famílias, o que também previne problemas.