Título: LER e acidentes são os casos mais comuns provocados pelo trabalho
Autor: Cássia Almeida
Fonte: O Globo, 22/01/2006, Economia, p. 28
Aposentadorias por lesão de esforço repetitivo vêm aumentando, diz INSS
A bancária Nilza Braga Batista, aos 49 anos, não consegue mais trabalhar. Sofre com inflamações nos tendões nos dois braços, um deles já operado para desobstruir o túnel do carpo. Não tem mais força nos braços, o que a impede, inclusive, de segurar copos e pratos de vidro:
¿ Cansei de quebrar copos. Agora uso tudo de plástico.
Solteira, vive com a mãe de 83 anos e sofre com as dores constantes, a dormência e a dependência:
¿ Eu deveria cuidar da minha mãe, mas é ela que cuida de mim ¿ lamenta.
Nilza é um dos milhares de trabalhadores que ficaram inválidos por lesões de esforço repetitivo (LER). Somente duas delas, sinovite e tenossinovite (inflamação nos tendões), respondem por 10,2% dos casos de aposentadorias relacionadas ao trabalho (aquelas que o INSS reconhece como doenças ocupacionais).
Aos 23 anos, Nilza começou a carreira no banco como digitadora, passou para escriturária, depois para atendente de caixa automático e, por último, trabalhava na microfilmagem:
¿ Sentia dores, ia ao fisioterapeuta, mas evitava me afastar para não perder o emprego. Mesmo assim, tive que me afastar em 1989 para operar o túnel do carpo.
CUT culpa ritmo acelerado no trabalho pelas doenças
Rita de Cássia Evaristo, presidente do Instituto Nacional de Saúde, Trabalho e Meio Ambiente da CUT, afirma que essas doenças vêm aumentando pela forma de organização do trabalho:
¿ Agora estamos vivendo a mutilação invisível e muito cedo. O ritmo do trabalho é mais acelerado, ditado por máquinas. Queremos mais participação dentro das empresas para poder interferir.
Segundo Rita, outra medida é pressionar o Sistema Único de Saúde (SUS) para que consiga identificar melhor as doenças ocupacionais, que têm uma subnotificação crônica.
¿ Temos que dar mais visibilidade para as doenças ocupacionais. Só assim conseguiremos mudar a organização no local de trabalho.
Segundo Teresa Maltez, coordenadora do INSS, essas lesões vêm crescendo e já ultrapassaram os acidentes. Para tentar conter o avanço dessa enfermidade, o Ministério do Trabalho diz que vem mudando normas de segurança e intensificando a fiscalização:
¿ Queremos dar mais instrumentos para a fiscalização poder interferir no ambiente de trabalho ¿ diz Rinaldo Marinho Costa Lima, diretor do Departamento de Segurança e Saúde do ministério.
Dagoberto Lima Godoy, presidente do Conselho de Relações do Trabalho da Confederação Nacional da Indústria (CNI), diz que é preciso fazer um esforço para redução dos acidentes e doenças, inclusive por razões econômicas:
¿ Há um investimento no capital humano e a aposentadoria precoce encurta o retorno desse recurso voltado para o trabalhador.
Segundo Godoy, a CNI busca, por meio do Sesi, dar atenção à saúde do trabalhador com programas de prevenção:
¿ Temos clínicas de reabilitação para trazer de volta esse trabalhador.
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