Título: VENDA DE CARROS FLEX SOBE APESAR DA ALTA DO ÁLCOOL
Autor: Ronaldo D'Ercole e Ramona Ordoñez
Fonte: O Globo, 22/01/2006, Economia, p. 29
Automóveis bicombustíveis corresponderam a 70% do total vendido no país na primeira quinzena de janeiro
SÃO PAULO e RIO. A alta nos preços do álcool combustível, de 13% desde dezembro segundo a Fipe, não alterou o interesse dos consumidores pelos carros bicombustíveis. Pesquisa da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) mostra que, dos 58.234 carros zero quilômetro licenciados até dia 15 de janeiro, 41.061, ou 70,55%, eram modelos com motor flexível. Já na primeira quinzena do mês passado, a proporção era menor: 69,19% do total dos carros tinham motor flex.
¿ A tecnologia do flex trouxe opções para o consumidor. Se o preço do álcool não cair ele enche o tanque com gasolina ¿ diz o presidente da Fenabrave, Sérgio Reze.
As montadoras encaram os reajustes como sazonais. Por isso, não cogitam rever seus planos de equipar gradativamente todas as suas linhas de veículos com motores flex.
¿ A tecnologia veio para ficar ¿ diz um executivo do setor.
Para a pesquisadora Miriam Bacchi, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiros (Esalq), da USP, as distorções do mercado devem diminuir com as medidas contra fraudes da Agência Nacional do Petróleo (ANP), que determina a adição de corantes ao álcool, e do governo paulista, que exige dos distribuidores comprovação da compra equivalente de gasolina para isentar o anidro do ICMS:
¿ As usinas também já estão mais adaptadas ao mercado, trabalhando na legalidade.
Segundo ela, até 2005 muitas usinas produziam mais álcool anidro (usado na mistura da gasolina e com vantagens tributárias) do que o hidratado. A demanda era maior porque o anidro era comprado mais barato e vendido como combustível, depois de hidratado ilegalmente.
¿ Hoje a oferta de hidratado já é maior ¿ diz Miriam.
Já os usineiros atribuem os reajustes em dezembro a uma corrida das distribuidoras para estocar produto antes do início das medidas antifraudes ¿ das cerca de cem distribuidoras do país, pelo menos 40 ainda não compraram álcool nas usinas este mês. A boa notícia, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/USP), é que os preços do álcool nas usinas estão em queda há três semanas.