Título: PELO TELEFONE, REMÉDIO FICA MAIS EM CONTA
Autor: Fabiana Ribeiro
Fonte: O Globo, 22/01/2006, Economia, p. 30

Pesquisa mostra que preço de medicamento em drogaria sem televendas pode ser superior em até 76%

Na guerra das farmácias, uma nova arma: as centrais com serviço de entrega. Que, por atenderem ao cliente pelo telefone, fazem com que uma drogaria não dispute mercado apenas com sua vizinha, mas com um número cada vez maior de redes. E esse mercado competitivo já tem reflexos no bolso. Em pesquisa feita pelo GLOBO sobre 12 medicamentos, em nove farmácias, nove deles saíram mais em conta nas drogarias com televendas. Para se ter idéia, há casos em que a variação de preços chegou a 76,1%. Especialistas lembram, no entanto, que fazer pesquisas de preços é ferramenta fundamental para garantir uma boa compra.

Pelo telefone da Drogasmil, o antiinflamatório Scaflan (100mg) sai por R$11,99. Na Farmácia do Leme, em Copacabana, vale R$21,12 (76,1% a mais). A Pacheco, que entrega em casa por seu televendas, vende o anticoncepcional Diane 35 por R$12,56 ¿ 21,5% a menos do que o da Citifarma da Tijuca. E o antialérgico Polaramine (6mg) custa, pela central de atendimento, R$9,17 na Farmalife. Já na Farmais, de Laranjeiras, R$10,40.

¿ Não é simplesmente uma central de atendimento que garante preços mais baixos. Até porque o setor de televendas exige investimentos em estrutura e treinamento. A questão de preços se favorece pela ampliação de clientes e pela compra em grandes quantidades. Não é à toa, portanto, que uma rede pequena não oferece essa comodidade ¿ disse Claudio Goldberg, especialista em varejo da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Erra, no entanto, quem pensa que comprar em farmácias com televendas fica necessariamente mais barato. O anti-hipertensivo Aldomet custa R$29 na Max do Centro e na RIC de Laranjeiras. Pelo atendimento telefônico da Farmalife, o remédio sai a R$31,61 ¿ 9% mais caro. E a caixa de Lexotan (6mg), a R$20,18 na Drogasmil, vale R$18,29 na Citifarma da Tijuca (-9,3%).

¿ É preciso pesquisar. Sempre ¿ frisa Goldberg.

A consumidora Nicéa Trindade concorda com o especialista. Por mês, sua família gasta cerca de R$250 com remédios para ela e o marido. E, por isso, não abre mão de comparar os preços entre as farmácias:

¿ Estou sempre atenta a preços. E, por isso, compro até em drogarias que não oferecem a comodidade da entrega em domicílio: é uma questão de fazer as contas e saber o que pesa menos no bolso.

Segundo Ricardo Scaroni, diretor da Drogasmil, a área de televendas amplia o número de consumidores da farmácia ¿ que passa a não ficar restrita apenas a quem mora nos arredores de uma filial.

¿ Mas isso só é possível porque somos uma rede com mais de 50 lojas ¿ lembra.

Nem todas as cadeias de drogarias aderiram à tendência. Uma delas é a Farmais. Para seu diretor, Murilo Marcacini, o sistema de franquias, que funciona com lojas independentes, impede a implantação de uma logística viável com custos acessíveis.

¿ Não há, por exemplo, como fazer estoque único.

Pedro Zidói, presidente da Associação Brasileira do Comércio Farmacêutico (ABC Farma), não aprova as centrais de atendimento. Para ele, a estratégia alimenta a concorrência excessiva e coloca em risco redes menores. Mas ele reconhece que os preços caem:

¿ É a concorrência que faz o preço cair. Preço não é tudo. A central telefônica tira a orientação do farmacêutico.