Título: EM DAVOS, CHINA E ÍNDIA DOMINARÃO O DEBATE
Autor: Deborah Berlinck
Fonte: O Globo, 22/01/2006, Economia, p. 31
América Latina e Brasil praticamente somem da agenda. Encontro na Suíça terá poucos líderes políticos de peso
PARIS. O mais famoso encontro de líderes empresariais e políticos do mundo ¿ a reunião anual do Fórum Econômico Mundial, na estação de esqui de Davos, na Suíça ¿ vai começar na quarta-feira elegendo as duas estrelas do ano: China e Índia. O peso cada vez maior desses dois países no plano internacional é tema de um dos cinco debates da abertura. Tradicionalmente, é um indicador de onde está o interesse dos líderes empresariais.
No ano em que a América Latina renova parte importante de seus líderes políticos, o continente e o Brasil praticamente desaparecem da agenda, até por força da ausência de seus líderes em Davos. Só um debate é consagrado ao continente. Enquanto isso, a China terá três debates dedicados exclusivamente a ela. Em 2005, chineses e indianos já monopolizavam atenções. No total, 2.340 pessoas de 89 países estarão confinadas num centro de conferências, cercadas de neve e seguranças por todos os lados, durante cinco dias, até o dia 29. A preocupação de que uma eventual crise de energia prejudique o crescimento econômico do mundo também deverá tomar a cúpula.
Se a reunião deste ano vai atrair o maior número de executivos de alto nível da história do fórum ¿ são 735 ¿ a lista dos participantes, no campo político, confirma a decadência do evento, vítima do sucesso (ficou grande demais) e da repetição. Há dez anos, líderes políticos disputavam convites para ir Davos. O encontro era mais exclusivo, as exigências com segurança, menores, e manifestantes não batiam à porta.
Temas como meio ambiente e Aids entraram na agenda
Curiosamente, os líderes, sobretudo do Primeiro Mundo, começam a debandar quando o encontro de Davos, por pressão popular, deixa de tratar somente de temas da alta esfera de negócios e incorpora assuntos de interesse mais global, como pobreza, Aids e meio ambiente. Agora, contam-se nos dedos os líderes políticos confirmados: os presidentes do Paquistão, Pervez Musharraf; do Afeganistão, Hamid Karzai; da Letônia, Vaira Vike-Freiberga; da Libéria, Ellen Johnson-Sirleaf; de Moçambique, Armando Emilio Guebuza; e da Nigéria, Olusegun Obasanjo; o primeiro-ministro do Iraque, Ibrahim Jaafari; e o vice-premier chinês, Zeng Peiyan.
Angela Merkel, a recém-eleita chanceler alemã, é praticamente o único nome de peso da Europa: nem o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, freqüentador assíduo, irá. Da França, poderá ir o primeiro-ministro, Dominique de Villepin. Dos EUA, Condoleezza Rice, secretária de Estado. A delegação brasileira terá Pelé, os ministros Gilberto Gil (Cultura), Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) e Celso Amorim (Relações Exteriores) e o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles.
É o mundo corporativo que vai compensar o déficit de personalidades políticas. Confirmaram presença Bill Gates (Microsoft), Carlos Ghosn (Renault), Larry Page (Google) e Charles Prince (Citigroup). Este ano, não vai ter a atriz Sharon Stone interrompendo um debate para pedir à platéia de milionários que abra a carteira e contribua para comprar redes antimosquito na África. Mas haverá novamente a atriz Angelina Jolie, embaixadora da agência de refugiados da ONU, que provoca suspiros por onde passa.