Título: UMA COMPANHIA HÁ QUASE 90 ANOS EM CARTAZ
Autor: Erica Ribeiro
Fonte: O Globo, 22/01/2006, Economia, p. 33

Empresa fundada por Luiz Severiano Ribeiro chega à terceira geração quebrando tabus da administração familiar

Luiz Severiano Ribeiro dá nome a um circuito de cinemas que completa 90 anos em 2007. Das primeiras salas arrendadas nos anos 1910 no Ceará, quando a sétima arte despontava como uma das grandes maravilhas do século, à tecnologia de som e imagem dos cinemas de hoje, o Grupo Severiano Ribeiro sempre teve à frente a marca de seu fundador, que conseguiu manter a empresa nas mãos da família.

Mesmo depois da morte do patriarca, em 1974, o grupo se manteve fiel a seu conceito de administrar tudo de forma conjunta. E, hoje, a terceira geração da família toma conta dos negócios. Até 2007, serão investidos R$34 milhões em novas salas com a marca Kinoplex (que tem o conceito dos modernos cinemas estrangeiros) no Rio.

Fundador não gostava de assistir a filmes

Quem pensa que Severiano Ribeiro era cinéfilo se engana. Apesar de ter construído um império que incluiu até a produção de filmes, ele não era fã de cinema. Deixava a esposa, Alba, em uma de suas salas ¿ a preferida era o cinema São Luiz ¿ e ficava do lado de fora, com o gerente, acompanhando o movimento. Mas seu faro era apurado. Pelo nome do filme ou simplesmente pela sinopse, já sabia se a bilheteria seria boa.

A primeira investida em salas foi em 1917, em Fortaleza, quando Severiano Ribeiro arrendou o Majestic-Palace. Logo depois, construiu o cinema Moderno, também no Ceará, inaugurado em 1921. Mudou-se ainda na década de 20 com a família para o Rio, na mesma época da chegada das grandes distribuidoras americanas à cidade. Em 1926, ele arrendou o Cinema Atlântico, em Copacabana. Ao mesmo tempo, formalizou um acordo com João Cruz Júnior para explorar os cinemas Ideal e Íris, no Centro do Rio. Em 1927, associou-se à companhia americana Metro, uma parceria que durou três anos.

¿ Meu avô teve a ousadia de investir em cinema quando essa indústria apenas engatinhava no país. Meu pai, Luiz Severiano Ribeiro Júnior, deu continuidade ao negócio de exibição e foi também dono da produtora Atlântida (que teve Oscarito e Grande Otelo como ícones), que fez mais de 50 filmes nas décadas de 50 e 60. Nossa empresa acompanhou todas as mudanças desse mercado ao longo dos últimos 90 anos, sempre atenta às novidades. Para nós, trabalhar com cinema é um prazer ¿ afirma Luiz Severiano Ribeiro Neto.

Durante os anos 20 e 30, a empresa iniciou a migração para outros pontos nobres da cidade. A primeira sala inaugurada fora da Cinelândia foi o São Luiz, em 1937. Francisco Pinto, sobrinho-neto de Severiano Ribeiro, lembra que o fundador trabalhou até o fim da vida e tinha tino para negócios.

¿ Foram 65 imóveis próprios, sempre administrados pela família. Hoje, dez abrigam cinemas de rua e outros estão alugados para diferentes atividades. A quarta geração já está na empresa, seguindo o mesmo conceito de trabalho em conjunto.

Concorrente é parceira em três empreendimentos

O maior concorrente, lembra Francisco Pinto, foi Livio Bruni, dono da rede de cinemas Bruni, que encerrou as atividades nos anos 80. Mas a febre dos cinemas em shopping centers fez o Grupo Severiano Ribeiro passar por uma grande reformulação, nos idos de 1987, quando foram abertas as primeiras salas nos centros de compras. No fim da década de 90, os cinemas multiplex chegaram ao Brasil, com as redes UCI e Cinemark.

Para acompanhar mais essa revolução e concorrer com os gigantes internacionais, a empresa lançou em 2002 a marca Kinoplex. O grupo tem hoje 35 salas nesse formato, que segue os padrões dos multiplex importados. As salas ficam em Campinas e Itaim, na capital paulista, e em Vitória.

Os investimentos nas 34 salas com formato Kinoplex no Rio serão feitos até o fim do próximo ano. Já foram assinados contratos com cinco shopping centers: Leblon (quatro salas), Rio Sul (sete salas), Shopping Tijuca (seis salas), Nova América (sete salas) e NorteShopping (dez salas).

A concorrência vê o grupo com respeito, e também encara como um desafio para o Severiano Ribeiro fincar pé em um mercado onde sempre teve lugar de destaque. O presidente da rede Cinemark no Brasil, Valmir Fernandes, elogia o resultado de décadas de administração familiar.

¿ Respeitamos a empresa pela retidão nos negócios. São concorrentes muito fortes, o que se torna um estímulo.

O Cinemark está há oito anos no Brasil e em 2006 abrirá complexos em São Paulo, Natal e Vitória. Cada uma das 23 salas custará cerca de R$1,5 milhão.

A rede UCI iniciou em 1996 uma parceria com o grupo brasileiro. O resultado foi a construção de três empreendimentos, dois em Recife e um em Fortaleza. O diretor-executivo do UCI, Carlos Marin, acha que a união vai se estender a outros projetos nos próximos anos:

¿ Não hesitamos na parceria pela certeza do sucesso da associação. Para nós, o grupo é sinônimo de cinema no Brasil.