Título: NO PERU, NOVO FENÔMENO NACIONALISTA
Autor:
Fonte: O Globo, 22/01/2006, O Mundo, p. 36

Candidato favorito à Presidência é militar que tentou derrubar Fujimori

BUENOS AIRES. No dia 9 de abril, os peruanos elegerão o sucessor do presidente Alejandro Toledo, um dos chefes de Estado mais impopulares da América Latina. Segundo pesquisas, o tenente-coronel da reserva Ollanta Humala, líder do Partido Nacionalista, será um dos grandes favoritos juntamente com a candidata da direitista Unidade Nacional, Lourdes Flores. A meteórica carreira política de Humala, que em outubro de 2000 liderou um levante militar contra o governo de Alberto Fujimori (1990-2000), foi possível graças ao fracasso de Toledo, que durante seu mandato não foi capaz de melhorar as condições de vida dos milhões de pobres peruanos.

De acordo com dados oficiais, cerca de 56% dos 25 milhões de peruanos vivem abaixo da linha da pobreza. Deste total, 4,7 milhões são indigentes. Durante a gestão de Toledo, a economia do Peru acumulou um crescimento de 21%. No entanto, a situação dos setores mais pobres, que vêem em Humala a única esperança de um futuro melhor, continua sendo dramática.

Com este pano de fundo, Humala se transformou no novo fenômeno político latino-americano. De acordo com pesquisa da empresa de consultoria Apoyo, se a eleição para presidente fosse hoje, o militar da reserva ficaria em primeiro lugar com 28% dos votos. Flores ficaria em segundo com 25% e o ex-presidente Alan Garcia (1985-1990) obteria apenas 15% dos votos.

Na esteira da vitória de Evo Morales na Bolívia, Humala quer conquistar o apoio dos setores mais humildes da sociedade, marginalizados pelos partidos que governaram o país nas últimas décadas. O crescimento do candidato nacionalista tem mais a ver com a delicada situação social do Peru, do que com seus supostos vínculos com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e com o próprio Morales.

Humala tem um discurso populista e nacionalista, destinado quase exclusivamente aos setores mais populares. Em seus atos de campanha, ataca o neoliberalismo e a globalização, critica políticos tradicionais e propõe a realização de uma revolução nacionalista, que incluiria a revisão de todos os contratos assinados com empresas multinacionais que operam no Peru. Ex-adido militar em Paris, Humala defende, ainda, uma ofensiva militar contra o Chile, em meio a uma delicada disputa entre ambos os países por fronteiras marítimas. Em declarações à imprensa, o candidato chegou a dizer que só atravessaria a fronteira com o Chile montado num tanque de guerra. (J.F.)