Título: O TUCANO DA VEZ
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 23/01/2006, O GLOBO, p. 2

Nas próximas semanas os líderes do PSDB terão de responder a duas perguntas antes de escolher o candidato que irá disputar as eleições presidenciais contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O prefeito José Serra é o único com chances de impedir a reeleição do presidente Lula? Qual o preço que Serra pagará por deixar a prefeitura depois de ter prometido que concluiria o mandato?

Amplos setores do PSDB consideram que tanto Serra quanto o governador Geraldo Alckmin (SP) têm condições de vencer as eleições presidenciais. Mas a pesquisa Ibope/Isto É, na qual o presidente Lula voltou a liderar, segundo os serristas, mostra que com Serra o PSDB está no segundo turno. Estes tucanos chamam a atenção para a resposta dos entrevistados quando perguntados sobre quem eles acham que ganha as eleições. Para 31% dos entrevistados Lula vencerá, para 26% Serra ganhará, enquanto apenas 12% associam Alckmin à vitória. Os partidários do governador alegam que ele herdará esta competitividade quando os eleitores tomarem conhecimento que ele será o candidato do PSDB. E Alckmin acredita que assim será:

¿ A campanha começa mesmo quando muda o horário da novela na televisão. As grandes mudanças de posicionamento dos eleitores ocorrem depois de trinta dias de propaganda no rádio e na tevê.

Somente depois de respondida a primeira pergunta, segundo um dos cardeais do partido, é que o PSDB discutirá se vale a pena José Serra deixar a prefeitura de São Paulo. Se Serra for, de fato, o único em condições de disputar para ganhar, o partido arcará com o desgaste. Mas se as avaliações internas mostrarem que Alckmin também pode ser um candidato para valer, os tucanos não querem pagar este preço. Nas conversas da cúpula partidária citam a derrota de Pimenta da Veiga (PSDB) para o governo de Minas Gerais, em 1990, depois de abandonar seu mandato na prefeitura de Belo Horizonte. E também a do ex-ministro da Educação do governo Lula, Tarso Genro (PT), derrotado para o governo de Rio Grande do Sul, em 2002, não tendo concluído o mandato de prefeito de Porto Alegre. Mas os serristas lembram que Ciro Gomes foi eleito governador do Ceará em 1990, saindo da prefeitura de Fortaleza. E acrescentam que a população de Ribeirão Preto (SP) aceitou o fato de Antonio Palocci ter trocado a prefeitura, para a qual tinha sido eleito em 2000, pelo Ministério da Fazenda. Mas Palocci não elegeu o sucessor nem passou ainda pelo veredito das urnas.