Título: `VOU CONTINUAR ANDANDO NO LIMITE DO TEMPO¿
Autor: Isabel Braga, Bernardo de la Peña e Luiza Damé
Fonte: O Globo, 23/01/2006, O País, p. 3

Lula diz mais uma vez que não tem obrigação de assumir candidatura agora

LA PAZ e SENADOR GUIOMARD (AC). O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que não tem a obrigação de assumir agora uma candidatura à reeleição e que vai esperar o ¿limite do tempo¿ para anunciar sua decisão. O limite pela legislação eleitoral é junho. Dessa vez, Lula foi mais direto ao deixar claro que não tem pressa, num momento em que ministros e dirigentes do PT o pressionam para assumir oficialmente até março que concorrerá à reeleição.

O presidente disse que a oposição é que tem que decidir até março quem são os candidatos, numa referência direta ao PSDB, onde Geraldo Alckmin e José Serra teriam que deixar seus cargos de governador e prefeito de São Paulo, respectivamente, se quiserem disputar a eleição.

¿ Vou continuar andando no limite do tempo que eu tenha que tomar a decisão. Não sou obrigado a assumir candidatura. Quem é obrigado são os adversários, que têm que se afastar em março. Eu não, estou muito tranquilo.

O presidente falou sobre a reeleição numa rápida entrevista ao desembarcar em La Paz, às 10h21m (12h21m em Brasília), para a posse do novo presidente da Bolívia, Evo Morales.

¿ Não posso admitir que meus adversários fiquem dizendo que cada ato que faço é eleitoreiro, porque senão não posso mais sair de casa. Na verdade, eles dizem isso para evitar que eu saia para inaugurar as coisas. Mas trabalhamos três anos plantando. Agora, está na hora de colhermos. Temos muita coisa para fazer ¿ disse Lula. ¿ Só peço a Deus que me dê força para continuar com a disposição que estou para governar e melhorar a vida do povo.

O presidente repetiu que sempre foi contra o instituto da reeleição, mas que agora ele é uma realidade.

¿ Todo mundo sabe o que penso sobre a reeleição. Digo para todo mundo que era melhor que não tivéssemos. Foi um erro aprová-la. Agora, temos. E tenho de governar o Brasil até 31 de dezembro.

Ao desembarcar no aeroporto de La Paz, Lula seguiu à risca as recomendações: desceu as escadas do avião presidencial devagar e caminhou lentamente para passar em revista à tropa boliviana. O aeroporto fica ainda mais alto que os 3.600 metros onde está a cidade. Bem-humorado, o presidente brincou com a imprensa.

¿ Andem devagar e comam pouco ¿ disse Lula, repetindo as recomendações dadas a turistas.

Presidente estava com o governador Jorge Viana

O presidente chegou à Bolívia acompanhado do governador do Acre, Jorge Viana, que anteontem fez um discurso defendendo a reeleição. Mas Viana foi o primeiro a criticar a pressão do PT para que Lula anunciasse logo sua candidatura. O presidente nacional do partido, Ricardo Berzoini, também estava com ele. Berzoini tem defendido que Lula defina sua posição oficial até março.

No sábado, de cima do palanque montado no seringal Bom Destino para anunciar um novo assentamento rural, Jorge Viana comandou as palavras de ordem a favor do presidente, depois de ler o manifesto.

¿ Nós conclamamos, te pedimos presidente aceite disputar a reeleição. Dividimos contigo, presidente, a nossa disposição de lutar para mantê-lo na presidência do Brasil. O que nós queremos para o Brasil? Queremos Lula presidente do Brasil. Que a esperança mais uma vez seja vencedora. Viva o Brasil. Viva o Lula ¿ discursou o governador, puxando o coro: ¿ Lula, guerreiro do povo brasileiro.

Ontem, Viana disse não achar que cometeu nenhuma ilegalidade.

¿ Não se trata de misturar as coisas e não temo nenhuma reação da oposição. Tratava-se de uma opinião e isso não tem nada que diga que não pode ser feito.

No palanque, o presidente assistiu à manifestação sorrindo, ao lado dos ministros Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário), Silas Rondeau (Minas e Energia), Marina Silva (Meio Ambiente) e Antonio Palocci (Fazenda), que foram assinar convênios para liberação de recursos. Durante um dia e meio de visita, o presidente anunciou investimentos de R$334 milhões em estradas, energia, financiamento, eletrificação rural, iluminação pública urbana e compra de produção.

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