Título: FÓRUM SOCIAL ENFRENTA CAOS NAS RUAS DE CARACAS, QUE RECEBERÁ 150 MIL PESSOAS
Autor: Soraya Aggege
Fonte: O Globo, 23/01/2006, Economia, p. 15
Abertura de evento na Venezuela terá passeata. Na Suíça, segurança reforçada
CARACAS e DAVOS (Suíça). A babel de línguas e cores políticas que marca as edições do Fórum Social Mundial (FSM) será agravada por muitos transtornos na versão que começa amanhã, em Caracas. Ao desembarcar na Venezuela, os participantes terão de enfrentar a interdição de um viaduto avariado, que interligava a cidade. Além disso, a abertura do evento deve reunir cerca de 150 mil pessoas, que sairão em passeata por Caracas.
Do aeroporto Simón Bolívar até a cidade, os visitantes levam quase quatro horas para chegar a Caracas, após percorrer estrada com mais de cem anos, reativada após o incidente com o viaduto. Os táxis cobram de US$100 e US$130. Quem tiver paciência para esperar, peruas do FSM fazem o trajeto por US$50.
Para complicar, pela primeira vez o espaço do evento será dividido em áreas diferentes da cidade anfitriã. Ainda devido ao viaduto, os participantes que estão em hotéis distantes do FSM terão de fazer percursos ainda mais longos. Isso numa cidade quente e abafada: venta pouco e chove menos ainda em Caracas.
Chávez vai se encontrar com membros do MST
Não há garantia de que as coisas ocorram como planejadas. Um dos temores dos organizadores é de que o presidente Hugo Chávez ocupe espaço demais nos eventos. Por enquanto, estava confirmada sua participação em uma assembléia no dia 25, com movimentos camponeses de vários países, liderados pela Via Campesina e pelo MST.
Amanhã, às 15h, os participantes do FSM devem se concentrar na Plaza de las Três Gracias e sair em passeata para o Paseo los Próceres. Lá deve ocorrer um ato político e shows com estrelas da ¿música antiimperialista¿, como Joan Baez, Silvio Rodriguez e Daniel Viglietti, ainda não confirmados.
Ao contrário das edições anteriores em Porto Alegre e em Mumbai, na Índia, as atividades ocorrerão em vários locais. No entanto, o transporte entre os locais é só uma promessa dos organizadores. A idéia é distribuir passes gratuitos do metrô para os participantes.
Outra dificuldade será conseguir retirar crachás e materiais do FSM. A própria programação do FSM não tinha sido distribuída até a última sexta-feira. Os organizadores adiaram as adesões para até a última hora e é esperada uma grande confusão nos locais de acesso.
Os organizadores venezuelanos também já fizeram alertas sobre os problemas de câmbio no país. Todos os dólares que forem trocados por bolívares nos câmbios não poderão ser recambiados por dólares ou outra moeda estrangeira no fim do Fórum. O resultado pode ser filas constantes nos pontos de câmbio, já que os participantes terão que fazer trocas parciais.
Várias caravanas da América Latina começam a chegar a Caracas. A estimativa é de que um total de 15 mil latinos, inclusive brasileiros, chegue pelas estradas. Um grupo de colombianos partiu de bicicleta de seu país para chegar a Caracas. Bolivianos de Cochabamba cruzaram a fronteira com o Peru, pela estrada Panamericana até Lima, onde se reuniram com uma caravana peruana. Eles iriam até o Equador e depois passariam pela Colômbia. Pelo menos mil brasileiros também resolveram participar das caravanas terrestres, a maioria do Norte do país.
Em Davos, na Suíça, onde começa na quarta-feira o Fórum Econômico Mundial, um forte esquema de segurança foi preparado para proteger os participantes. No sábado, houve protestos pacíficos contra o evento, cujo principal tema este ano serão os riscos e oportunidades representados pela China e pela Índia para a economia global. Segundo Klaus Schwab, presidente do Fórum, a edição 2006 do evento será mais centrada em temas econômicos empresariais.
¿ Este ano voltaremos ao que somos. O Fórum não é um conferência para o desenvolvimento Norte-Sul ¿ disse Schwab à imprensa suíça.
(*) Com agências internacionais
OPOSIÇÃO VOLTA ÀS RUAS DE CARACAS, na página 18