Título: O RENASCIMENTO DO CINEMA NACIONAL
Autor: Orlando Senna
Fonte: O Globo, 24/01/2006, Opinião, p. 7

Após a blitzkrieg Collor contra a atividade cinematográfica do país, quando a produção baixou a quase zero, o processo de recuperação está dando seus frutos: em 2005 foram lançados 51 filmes nacionais, ocupando 14% do mercado exibidor (a ocupação saltou de 6% para 22% em 2003 e estabilizou-se em 14% em 2004 e 2005). Neste início de ano, cerca de 130 filmes longos e 500 filmes curtos estão sendo realizados e estão apontados na Ancine mais de 60 lançamentos de filmes longos em 2006.

O processo foi acelerado no governo Lula, que aumentou em mais de 100% o investimento na atividade (em comparação com o governo anterior), estendeu os benefícios a todo o território nacional, concedeu fomento à distribuição, trabalha na ampliação das relações econômicas e operacionais da televisão com o cinema, está criando canais de exportação e propôs ao setor e à sociedade a adoção de um novo marco regulatório para a atividade audiovisual.

Uma política audiovisual inserida na prática do capitalismo democrático, cujos suportes são a diversidade cultural e a pluralidade empresarial. Aí se inclui o investimento e/ou ações governamentais em todos os aspectos culturais, sociais, geográficos e financeiros da atividade, visando à ampliação dos mercados nacional e internacional para os produtos brasileiros.

Uma política de mercado que, embora ainda tenha muito o que ser feito, já resultou em substancial aumento de bilheteria dos filmes nacionais nos últimos três anos e de sucessos comerciais marcantes, com vários filmes alcançando mais de 3 milhões de espectadores (¿Dois filhos de Francisco¿, 6 milhões de espectadores, superou os blockbusters de Hollywood). São os melhores resultados do cinema brasileiro em três décadas e, de acordo com críticos e espectadores, a safra de melhor qualidade artística desde o Cinema Novo.

Um programa de governo com essa dimensão naturalmente suscita resistências e disputas em uma atividade essencialmente dependente da ação do Estado, já que provoca uma reacomodação dos atores de mercado, incorporando novos participantes e realinhando os modelos de negócio.

ORLANDO SENNA é cineasta e secretário para o Desenvolvimento das Artes Audiovisuais do Ministério da Cultura.