Título: ÁLCOOL: SETOR NEGOCIA R$22 BILHÕES PARA ESTABILIZAR PREÇO E PRODUÇÃO
Autor: Geralda Doca
Fonte: O Globo, 24/01/2006, Economia, p. 22

Governo e usineiros estudam pacote de financiamento para o segmentos

BRASÍLIA. O Ministério da Agricultura e representantes da cadeia produtiva do álcool estudam a criação de um pacote de financiamento superior a R$22 bilhões para garantir o abastecimento do açúcar e do álcool nos mercados doméstico e internacional e evitar fortes oscilações do combustível na entressafra. De imediato, a Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Açúcar e do Álcool (formada por representantes da Agricultura e do setor privado) pedirá ao Conselho Interministerial do Açúcar e do Álcool (Cima) R$1,2 bilhão para o programa de formação de estoques, com recursos da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), cobrada sobre os combustíveis.

A idéia é obter um compromisso formal da equipe econômica para que este dinheiro custeado pela Cide seja liberado no início da colheita, entre março e abril, o que daria para retirar do mercado 1,5 bilhão de litros de álcool.

O custo total do pacote considera ainda a necessidade de construir 73 usinas em seis anos e a ampliação da área plantada de cana em 2,5 milhões de hectares. Isso porque a demanda de álcool, impulsionada pelo carro flex (bicombustível), fará com que o consumo do produto praticamente dobre e chegue a 26 bilhões de litros em 2014.

Proposta ainda está sendo formalizada

Seriam necessários para esta etapa R$14 bilhões, com dinheiro do BNDES, para a construção das usinas. Outros R$7 bilhões viriam do Banco do Brasil, principal financiador da agricultura nacional, para aumentar o plantio de cana.

Os números foram apresentados ontem ao ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues. A proposta formal ainda será detalhada por grupos de trabalho, formados por participantes da Câmara, e depois entregue a Rodrigues, que, por sua vez, vai submetê-lo ao Cima ¿ órgão regulador do setor, no qual têm assentos os ministérios da Agricultura, da Fazenda, de Minas e Energia e do Planejamento.

Ao deixar a reunião, Rodrigues disse ter ficado surpreso com as estimativas de crescimento do setor. Porém, ao ser perguntado sobre o financiamento imediato aos usineiros para formação de estoques, respondeu que ainda não existe decisão de governo.

¿ Sei que há essa demanda. Vamos avaliar se é preciso que o governo entre. Por enquanto, não existe decisão de governo e nenhuma demanda formal foi apresentada ¿ disse o ministro, acrescentando que o problema hoje não é o custo da estocagem, mas os juros altos, inviabilizando a manutenção dos estoques.

O ministro destacou que o etanol é um combustível e, portanto, um produto estratégico para o país. A tributação precisa ser discutida com a questão da estocagem, disse Rodrigues.