Título: TERROR FORTALECIDO NOS DOMÍNIOS DE BIN LADEN
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Fonte: O Globo, 24/01/2006, O Mundo, p. 29

Violência na fronteira entre Paquistão e Afeganistão evidencia falhas na aliança entre EUA e os dois países

CABUL. Recentes acontecimentos ao longo da instável fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão evidenciaram profundas falhas na aliança antiterrorismo entre os EUA e esses dois países. Funcionários dos governos das três nações ¿ que unem seus esforços no combate a extremistas ¿ admitem que a situação na região é altamente precária. Especialistas acreditam que o líder da al-Qaeda, Osama bin Laden, e seu número dois, Ayman al-Zawahiri, estejam se escondendo justamente naquela fronteira ¿ mais especificamente na remota região tribal de Waziristão do Sul .

Fontes do governo paquistanês afirmam que os rebeldes estão cada vez mais fortalecidos, em parte devido à chegada de guerrilheiros vindos de países árabes, da Ásia Central e do Cáucaso. Para piorar a situação, Bin Laden divulgou semana passada ¿ depois de mais de um ano de silêncio ¿ uma mensagem com novas ameaças aos americanos, indicando que os terroristas continuam ativos e longe dos olhos dos EUA.

Aviões não tripulados para cruzar a fronteira

A tensão aumenta no momento em que tanto os extremistas quanto os EUA adotam táticas mais agressivas. Dois acontecimentos em especial mostraram o quanto é delicada a aliança entre os três países. No último dia 13, mísseis americanos atingiram uma casa na aldeia paquistanesa de Damadola, onde se supunha que estivesse Zawiriri. Três dias depois, na cidade afegã de Spin Boldak, um terrorista suicida detonou sua motocicleta-bomba no meio de uma multidão, matando 23 pessoas.

Como aconteceram em lados opostos da fronteira, os dois episódios produziram respostas distintas. Depois do ataque americano ¿ em que morreram 18 civis e quatro membros da al-Qaeda ¿, milhares de paquistaneses tomaram as ruas para condenar os EUA. Depois do atentado suicida, milhares de afegãos tomaram as ruas para condenar o Paquistão.

Como os soldados americanos estão no Afeganistão, enquanto a maioria dos militantes que eles procuram estaria no Paquistão, os EUA começaram a usar Predadores ¿ aviões não tripulados ¿ para cruzar a fronteira. Aparentemente, autoridades paquistanesas foram informadas sobre tais missões, mas a resposta irada do público lança dúvidas sobre a capacidade do governo do general Pervez Musharraf ¿ que cultiva relações com o Ocidente sem reprimir grupos militantes em seu país ¿ de lidar com a política interna.

Por sua vez, o Afeganistão tem aplaudido a posição mais agressiva dos EUA. Autoridades afegãs dizem querer que os americanos avancem mais contra militantes baseados no Paquistão, enquanto os compromissos internacionais para garantir a segurança no território afegão são questionados.

Ontem, forças paramilitares paquistanesas impediram a passagem de políticos de oposição que tentavam visitar a área do ataque americano em Damadola e ali fazer um comício. Enquanto os políticos faziam discursos para criticar a aliança entre Musharraf e o presidente George W. Bush contra o terrorismo, centenas de manifestantes gritaram em coro: ¿Abaixo os EUA¿.

Domingo, em entrevista à CNN, o primeiro-ministro paquistanês, Shaukat Aziz, rebateu relatos sobre o fortalecimento dos terroristas na fronteira com o Afeganistão, defendendo os esforços de seu país. Segundo ele, 80 mil soldados estão na região para reprimir militantes.

¿ Tem havido alguma ação de alguns desses elementos que não apóiam a presença das forças de segurança paquistanesas ali, mas muito menos que no passado ¿ afirmou.

Negando também os relatos segundo os quais Bin Laden estaria na região, ele afirmou:

¿ Nós e o resto do mundo não temos qualquer pista sobre ele ou seus associados. Tudo o que sabemos por relatos da inteligência é que ele não fica num lugar, e poderia estar em qualquer lugar.

Com o Washington Post