Título: Mercado influi na data do depoimento de Palocci
Autor: Alan Gripp
Fonte: O Globo, 25/01/2006, O País, p. 9

Ministro visita CPI dos Bingos amanhã e começará a responder somente depois do fechamento das bolsas

BRASÍLIA. Preocupado com uma possível repercussão negativa no mercado financeiro, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, pediu e a oposição atendeu: seu depoimento na CPI dos Bingos foi marcado para amanhã, último dia da semana parlamentar, e terá início apenas após o fim da sessão ordinária no plenário do Senado, o que provavelmente ocorrerá depois do fechamento das bolsas. A data e o horário foram negociados pessoalmente pelo ministro, que ontem telefonou para os líderes da oposição e para o presidente da CPI, senador Efraim Morais (PFL-PB).

O governo quer evitar assim que o depoimento seja usado para especulação financeira durante uma semana inteira ¿ no caso de o depoimento acontecer numa terça-feira, por exemplo ¿ e aposta num bom desempenho de Palocci, que depõe como convidado.

O cuidado teve o apoio de parte da oposição. O PSDB posicionou-se a favor. O PFL, no entanto, rachou. Apesar de Efraim Morais ter aceito a data pedida por Palocci, o senador Antonio Carlos Magalhães (BA) ocupou a tribuna ontem para pedir ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que antecipe a sessão de amanhã para 9h, puxando também o horário do depoimento do ministro. Renan não disse que sim nem que não. E respondeu enigmático:

¿ Cada dia tem sua agonia.

Outros senadores da oposição, no entanto, se declararam a favor da preocupação com o mercado financeiro.

¿ A bolsa é muito suscetível. Essa cautela tem sentido ¿ disse Álvaro Dias (PSDB-PR).

Oposição promete tratamento cordial

Com mercados abertos ou não, Palocci responderá sobre as denúncias de corrupção em suas duas gestões na prefeitura de Ribeirão Preto; o suposto tráfico de influência praticado por seus ex-assessores no interior de São Paulo no Ministério da Fazenda; e as acusações de que o PT recebeu dólares vindos de Cuba para a campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002.

Como depõe na condição de convidado, suas declarações não poderão ser usadas contra ele na Justiça. Para o presidente da CPI, fará pouca diferença:

¿ Não acredito que o ministro tenha intenção de não dizer a verdade. Será um depoimento para a nação, não há como ele voltar atrás no que disser.

A oposição prometeu ontem que irá tratar o ministro com cordialidade e firmeza.

¿ Seremos sempre respeitosos, mas muito duros. Há muito o que ser explicado ¿ disse o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia.

¿ Se houver problema (na economia), a responsabilidade é de todo mundo ¿ devolveu a petista Ideli Salvatti (SC).

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