Título: CRESCIMENTO PARA QUEM?
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Fonte: O Globo, 25/01/2006, Economia, p. 19

OIT: desemprego já afeta 191,8 milhões, apesar de expansão de 4,3% da economia global

GENEBRA

O crescimento da economia global em 2005 não nasceu para todos. O número de desempregados atingiu o patamar recorde de 191,8 milhões de pessoas, contra 189,6 milhões em 2004, informou ontem a Organização Internacional do Trabalho (OIT). O crescimento da economia, estimado em 4,3% pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), não foi suficiente para evitar que mais 2,2 milhões de pessoas ficassem desempregadas.

O relatório da OIT também afirma que a dificuldade de a maior parte das economias em transformar crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, o conjunto das riquezas produzidas num país) em criação de empregos ou aumento salarial, aliado a desastres naturais e alta nos preços de energia, afetou principalmente os trabalhadores mais pobres.

Segundo a OIT, só 14,5 milhões dos mais de 500 milhões de trabalhadores vivendo em extrema pobreza conseguiram transpor, em 2005, o patamar de US$1 por dia. Além disso, 1,4 bilhão - metade dos 2,8 bilhões de trabalhadores em todo o mundo - continua abaixo da linha da pobreza, ou US$2 por dia.

"O relatório deste ano mostra, mais uma vez, que só o crescimento econômico não basta para resolver adequadamente as necessidades de emprego globais. Isso dificulta a redução da pobreza em muitos países", afirmou o diretor-geral da OIT, Juan Somavia. "Estamos enfrentando uma crise de proporções gigantescas, e um déficit em trabalho decente que não vai acabar por si próprio. Precisamos de novas políticas e práticas para resolver essas questões".

Desde 1995, o número de desempregados aumentou em 34,4 milhões. E cerca de 50% dos 191,8 milhões de desempregados são jovens, o que a OIT chama de preocupante já que estes têm três vezes mais possibilidades que os adultos de ficarem desocupados.

A taxa de desemprego, devido a efeitos estatísticos, ficou inalterada de 2004 para o ano passado, em 6,3%, depois de dois anos consecutivos de queda. A maior alta do índice de desemprego ano passado foi na América Latina e Caribe, de 7,4% para 7,7%. A maior taxa continua sendo a de Oriente Médio e Norte da África, com 13,2% (13,1% em 2004). Na África Subsaariana, houve um ligeiro recuo, de 9,9% para 9,7%. Mas a queda mais significativa foi na região que engloba a União Européia (UE) e as economias desenvolvidas: de 7,1% para 6,7% ano passado.

O número de trabalhadores cresceu 1,5%, para 2,8 bilhões, acumulando alta de 16,5% na última década. Mas a OIT ressalta que não é possível calcular quanto desses novos empregos são decentes e que, "dada a experiência dos anos anteriores, é provável que não sejam a maioria".

A OIT também teme o impacto dos custos da energia no mercado de trabalho. O relatório ressalta que a estimativa de crescimento global do FMI para 2005, de 4,3%, foi feita quando o barril do petróleo estava em US$55. Hoje, está acima de US$65. A alta do petróleo pode reduzir a produção e o consumo mundiais, prejudicando a expansão da economia. Os mais afetados, diz a OIT, serão os mais pobres e os jovens, que freqüentemente trabalham meio período e não têm benefícios.

Segundo o relatório, a agricultura respondeu por 40,1% dos empregos em 2005, com 1,1 bilhão de pessoas, contra 21% da indústria e 38,9% do setor de serviços. Há uma década, essa proporção era de 44,4%, 21,1% e 34,5%, respectivamente. Na Ásia e na África Subsaariana, 60% dos trabalhadores estão no setor agrícola.

A OIT observa que esses dados mostram que a maioria dos trabalhadores passa direto da agricultura para o setor de serviços - que oferece tanto bons empregos quanto posições precárias e mal pagas, não sendo garantia de melhora na situação do trabalhador. "Essas questões têm de ser enfrentadas pelos legisladores se eles quiserem se assegurar de que o desenvolvimento levará à redução da pobreza", diz o relatório.

"Só o crescimento econômico não basta para resolver as necessidades de emprego globais"

JUAN SOMAVIA