Título: BRASIL FLEXIBILIZARÁ ACORDO AUTOMOTIVO DO MERCOSUL PARA BENEFICIAR ARGENTINA
Autor: Martha Beck
Fonte: O Globo, 25/01/2006, Economia, p. 20
Novo cronograma de liberação do mercado será discutido a partir de junho
BRASÍLIA. Depois de aceitar prorrogar o acordo automotivo com a Argentina, o Brasil concordou em estabelecer mais duas etapas intermediárias antes da adoção do livre comércio de automóveis entre os dois principais parceiros do Mercosul. Pelo entendimento anunciado ontem pelo Ministério do Desenvolvimento, o atual acordo - pelo qual um país precisa importar US$1 para cada US$2,6 exportados para o outro com tarifa zero - deveria acabar em dezembro de 2005, mas será prorrogado até março.
A partir dessa data até 30 de junho, vai vigorar um acordo transitório. Segundo o secretário de Desenvolvimento da Produção do ministério, Antônio Sérgio Martins, neste período a Argentina deverá ser beneficiada por uma mudança nas regras que controlam o comércio de automóveis.
Ele explicou que a regra de que um país precisa importar US$1 para cada US$2,6 exportados - conhecida como flex - pode ser diferente para beneficiar os argentinos. O país vizinho poderia ter permissão para exportar mais com tarifa zero.
- Podemos ter um flex assimétrico - disse Martins.
Fatia do Mercosul no mercado mundial caiu
Somente depois de junho é que os países devem definir um acordo permanente para o comércio automotivo. Nesta fase é que o Brasil pretende definir a data para o início do livre comércio. Essa medida, no entanto, contraria os argentinos, que consideram que sua indústria automotiva poderia ser prejudicada por uma enxurrada de veículos brasileiros.
- É importante passar para o mundo a idéia de que o Mercosul terá o livre comércio - disse o secretário.
Ele ressaltou que o bloco corre o risco de perder investimentos no setor automotivo devido às restrições provocadas pelo regime em vigor. Segundo Martins, Índia, China e o Leste Europeu também são atraentes aos investidores e podem ganhar a disputa se não houver uma sinalização de livre comércio no Mercosul.
O bloco, que respondia por 4,6% da produção mundial de veículos há seis anos, tem hoje 3,9%. Já a China tem 7,9%, enquanto o Leste Europeu fica com 2,5% e a Índia, com 2,4%.
Acordo do setor foi implementado em 2000
O acordo automotivo foi implementado em 2000 para proteger a indústria argentina da invasão dos automóveis brasileiros. Após a desvalorização do real em 1999, os produtos brasileiros ficaram muito mais competitivos, o que reduziu o parque industrial vizinho, inclusive com a transferência de fábricas para o Brasil. Inicialmente, o regime deveria ter acabado há um ano, mas a prorrogação foi acertada entre os sócios do Mercosul.