Título: PRECAUÇÃO
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Fonte: O Globo, 26/01/2006, Opinião, p. 6

Todos os anos morrem cerca de 24 mil pessoas em decorrência de acidentes nas estradas brasileiras, e são feridas 140 mil. Nos três anos que já dura a guerra com o Iraque, os EUA perderam pouco mais de 2 mil homens. Ou seja, levariam 36 anos para perder na guerra as vidas que perdemos em um ano nas estradas.

Independentemente das condições das estradas, um fator que causa cerca de 20% dos acidentes e 30% das mortes é o cansaço dos motoristas.

Caminhoneiros e motoristas de ônibus, submetidos a jornadas de trabalho cada vez mais pesadas, correm risco, assim como motoristas de carro. Afinal, muitos pegam a estrada todo dia para trabalhar, estudar, visitar clientes. A falta de atenção, sintoma de cansaço, foi responsável por 28% dos acidentes nas rodovias federais em 2004.

Segundo estudo da Pamcary, analisando 4.200 acidentes de caminhão, na segunda-feira são expedidas 17% das mercadorias da semana, mas ocorrem apenas 5% dos acidentes no período, contra 15% no sábado, quando são expedidas 5% das mercadorias ¿ porque os caminhoneiros descansam no domingo. No caso dos ônibus, estudo da Unifesp comprovou que 55% dos motoristas cochilavam alguma vez ao volante.

As autoridades devem estabelecer normas que restrinjam a jornada. Já o motorista comum deve dormir bem antes de viajar e nunca dirigir cansado. Fazer uma parada a cada duas horas e evitar dirigir à noite na estrada, depois de um dia de trabalho. Revezar na direção. Se estiver cansado, parar e dormir pelo menos 20 minutos.

São medidas simples que podem reduzir em até 30% o número de mortes nas estradas, poupando a vida de pelo menos 7.200 pessoas por ano. Cansaço na estrada mata, e quem dorme ao volante pode nunca mais acordar.

RODOLFO ALBERTO RIZZOTTO é coordenador da campanha Cansaço Mata do SOS Estradas.