Título: DENGUE: PRIMEIRA MORTE DO ANO
Autor: Guilherme Freitas
Fonte: O Globo, 26/01/2006, Rio, p. 11

Moradora de Jacarepaguá, onde há surto da doença, é a segunda vítima do verão

Aprimeira morte por dengue no município do Rio este ano foi confirmada ontem pela Secretaria municipal de Saúde. Uma mulher de 45 anos, cuja identidade não foi divulgada, morreu no último dia 9 no Hospital das Clínicas de Jacarepaguá, área onde está ocorrendo um surto da doença. O caso de dengue, causado pelo vírus do tipo 3, foi confirmado por exames de laboratório feitos pela Fundação Oswaldo Cruz. É o segundo óbito neste verão: em 23 de dezembro do ano passado, o aposentado Antônio de Jesus Assis, de 52 anos, morador de Vargem Pequena, morreu de dengue hemorrágica no Hospital Lourenço Jorge, na Barra, outra região onde ocorre o surto.

Segundo dados divulgados ontem pela Secretaria municipal de Saúde, o total de casos de dengue notificados desde o início do ano no município já chega a 217, quase quatro vezes mais que os 58 registros de todo o mês de janeiro de 2005. O relatório da secretaria mostra que houve quase cem notificações nos últimos cinco dias, uma média de 20 novos infectados por dia. O ponto de maior incidência é Curicica, em Jacarepaguá, com 35 casos. Vargem Pequena teve 23 notificações. Na Zona Sul, a situação ainda não é alarmante. Foram registrados três casos em Copacabana, um em Botafogo e outro em Laranjeiras. A Rocinha já teve sete infectados este ano.

Embora tenham acertado as diferenças e firmado parcerias para tentar acabar com o mosquito da dengue, estado e município não se entendem sobre os números da doença. A Secretaria estadual de Saúde anteontem divulgou que já haviam sido registrados 261 casos de dengue no município em 2006. Ontem, o governo estadual retificou os números e afirmou que havia 192 registros na cidade desde o início do ano ( 236 em todo o estado). Segundo a Secretaria estadual de Saúde, a discrepância entre os dados municipais e estaduais ocorre porque muitos casos inicialmente notificados como dengue não se confirmam e são removidos das estatísticas.

Vereador: município não seguiu diretrizes

Segundo o vereador Carlos Eduardo (PPS), presidente da Comissão de Saúde da Câmara, o surto de dengue que já matou duas pessoas neste verão teria proporções menores se a prefeitura seguisse as diretrizes estabelecidas no Programa Nacional de Controle da Dengue. Instituído pelo Ministério da Saúde em 2002, o programa estabelece que agentes de saúde municipais devem fazer seis ciclos anuais de visitas a todas as residências da cidade. Para cobrir os cerca de três milhões de domicílios do Rio de Janeiro, deveriam ter sido feitas, no ano passado, 18 milhões de visitas, segundo o vereador. Mas, de acordo com a superintendente de Vigilância e Saúde da Secretaria municipal de Saúde, Meri Baran, os 2.300 agentes de saúde do Rio fizeram apenas 2,8 milhões de visitas em 2005.

Segundo Meri, é impossível visitar cada residência do município:

¿ Com esse número de agentes, não podemos cobrir a cidade como um todo. Realizamos quatro ciclos de visitas por ano, mas priorizamos os quarteirões mais infestados de cada região.

O epidemiologista Roberto Medronho, da UFRJ, considera a ação insuficiente:

¿ Pontos estratégicos, como chafarizes, borracharias, construções e terrenos baldios, precisam ser vistoriados de 15 em 15 dias. Não adianta só a população se prevenir. A prefeitura tem que fazer sua parte ¿ criticou.

O vereador Carlos Eduardo anunciou ontem que enviará um relatório ao Ministério Público estadual denunciando a prefeitura pelo número reduzido de visitas feitas pelos agentes de saúde, que começam hoje a atuar com os 500 bombeiros destacados para auxiliar a força-tarefa formada por estado e município no combate à dengue. Os bombeiros vão percorrer a região de Jacarepaguá, realizando ações educativas e procurando focos do mosquito Aedes aegypti.