Título: CORRUPÇÃO FACILITA ENTRADA DE RÁDIO EM PRESÍDIO
Autor: Ana Cláudia Costa
Fonte: O Globo, 26/01/2006, Rio, p. 19

Secretário admite conivência de guardas penitenciários, transfere presos e põe 2 detentos sob regime disciplinar

O secretário de Administração Penitenciária, Astério Pereira dos Santos, admitiu ontem que pode haver corrupção dentro das unidades prisionais, permitindo a entrada de celulares e também de radiotransmissores, como O GLOBO informou ontem. Os radiotransmissores, que são à prova de bloqueadores de celular, segundo ele, podem ter entrado no presídio através de parentes de presos, que os levam dentro das partes íntimas, como já foi detectado pela Secretaria de Administração Penitenciária, o que também mostra que há conivência de agentes.

Preso que escondeu rádio precisou fazer cirurgia

O secretário admitiu também que os detentos do presídio de segurança máxima Serrano Neves, o Bangu III, estão utilizando radiotransmissores e burlando a vigilância. Prova disso, segundo o secretário, foi a secretaria ter socorrido, em outubro do ano passado, um preso dentro de Bangu III, levando-o para fazer uma cirurgia no Hospital Rocha Faria, na qual foi retirado do intestino do preso um aparelho de rádio Oregon Scientific Transceiver Modelo TP-329. Na ocasião o preso declarou que havia escondido o aparelho em seu corpo para burlar a vigilância.

Ontem mesmo Astério Pereira dos Santos disse que já tomou providências para acabar com a comunicação de presos de Bangu III através de radiotransmissores. Segundo o secretário e a Coordenadoria do Núcleo de Inteligência do Sistema Penitenciário, os detentos estão utilizando um sistema ponto a ponto para se comunicar com cúmplices fora do complexo penitenciário.

O sistema, conforme explicou o secretário, funciona de forma que um preso dentro de Bangu III tem um radiotransmissor e fala diretamente com outro preso que está no presídio semi-aberto Plácido de Sá Carvalho com um outro radiotransmissor. Este segundo detento, que pode deixar a unidade durante o dia, entra com celulares e, desta forma, faz o contato com o lado externo do complexo de Bangu.

Rádio é acoplado ao telefone celular

Quando quer falar para fora do presídio, o traficante que está em Bangu III pede ao cúmplice que está no presídio Plácido de Sá Carvalho para fazer a ligação para determinado número de celular. Quando a pessoa atende, ele cola o celular a seu aparelho de rádio, o que permite a comunicação.

¿ É por isso que em muitas falas há um chiado ¿ disse o secretário.

Para tentar acabar com a nova estratégia dos traficantes, Astério disse que trocou vários deles de celas. Além disso, colocou os traficantes Luiz Carlos Gomes Jardim, o Luiz Queimado, e seu irmão Paulo César Jardim, o Paulinho Madureira, sob regime disciplinar diferenciado (RDD). Os dois são chefes do tráfico em morros de São Gonçalo e filhos de Maria Helena Gomes Jardim, a Vovó do Pó, de São Gonçalo.

¿ Não estamos de braços cruzados. O crime é uma máquina dinâmica e nós estamos nos aperfeiçoando ¿ afirmou Astério, acrescentando que vai buscar para seus agentes de inteligência cursos e conhecimentos sobre radiotransmissores e verificar como esses equipamentos são operados e como são adquiridos.

Na noite de anteontem, antes de o secretário tomar providências e transferir presos de Bangu III de celas, traficantes dentro da unidade voltaram a se comunicar pelo rádio, por volta das 21h, no mesmo horário que na segunda-feira à noite. Em um trecho, o bandido fornece o número de um telefone pelo rádio para um cúmplice e pede que ele faça a ligação. O cúmplice liga para o número citado e o bandido dentro de Bangu III fala com a filha, a irmã e com outro cúmplice.

O bandido que está dentro do presídio cita também em sua conversa com o cúmplice uma mulher que ele identifica apenas como Tia Magrinha. Essa mulher, segundo ele, seria a responsável pelo transporte de dinheiro e drogas da quadrilha. De acordo com investigações da delegacia de Neves, Tia Magrinha seria uma mulher ligada à quadrilha que atua no Morro Menino Deus, em São Gonçalo.