Título: DE OLHO NA INFLAÇÃO, GOVERNO KIRCHNER FECHA ACORDOS QUE CONGELA PREÇOS
Autor: Janaina Figueiredo
Fonte: O Globo, 26/01/2006, Economia, p. 22

Produtores de carne são o próximo alvo, mas eles impõem condições

BUENOS AIRES. O governo de Néstor Kirchner está fazendo malabarismo para tentar conter a escalada da inflação na Argentina, que em 2005 chegou a 12,3% e este mês deve alcançar 1,5%, segundo estimativas extra-oficiais. Ontem, o presidente e a ministra da Economia, Felisa Miceli, assinaram acordos com importantes empresas que operam no país, entre elas Unilever, Arcor e Kimberly-Clark, que prevêem o congelamento de preços de vários produtos por um ano.

O que Kirchner e Miceli ainda não conseguiram foi fechar um entendimento com os produtores de carne, que vinculam a redução dos impostos na exportação do produto à aceitação do congelamento do preço da carne no mercado interno. Os acordos assinados ontem envolvem diferentes produtos, de fraldas descartáveis a água sanitária. Segunda-feira passada, o governo argentino assinara entendimentos similares com o fabricante de alimentos Molinos e com a Procter & Gamble.

Estatísticas apontam mais 1,5 milhão de pobres

O principal objetivo de Kirchner é evitar que este ano a inflação supere os dois dígitos, como ocorreu no ano passado. A disparada dos preços em 2005 aprofundou a crise social do país: estima-se que 1,5 milhão de pessoas engrossaram a fila de pobres. Segundo dados do Indec (o IBGE argentino), atualmente 38,5% dos 37 milhões de argentinos vivem abaixo da linha da pobreza.

¿ Pedimos a todos os setores que sejam responsáveis, sobretudo aos mais fortes, que estão exportando, que sejam solidários com o povo argentino ¿ disse Kirchner, em claro recado aos produtores de carne.

Em 2005, as exportações de carne atingiram US$1,389 bilhão, o que representa aumento de 32% em relação ao ano anterior. O preço da carne tem grande peso no valor da cesta básica argentina, o que torna importante um acordo entre governo e produtores. De acordo com o Indec, o valor da cesta básica chega a 831 pesos, bem acima do salário médio dos argentinos, que é de 780 pesos.