Título: FÓRUM PREOCUPADO COM POSSÍVEL DERROTA DE LULA
Autor:
Fonte: O Globo, 26/01/2006, Economia, p. 24
PT é cobrado por movimentos sociais e políticos, que temem retrocesso na América Latina
CARACAS. O PT está sendo cobrado no Fórum Social Mundial (FSM) devido à possibilidade de uma derrota eleitoral na tentativa de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Integrantes do FSM e de partidos de esquerda que participam do evento temem uma possível derrota de Lula para o prefeito de São Paulo, José Serra, já que algumas pesquisas apontam um empate técnico entre os dois. Para parte dos participantes do FSM, uma derrota comprometeria o processo de mudança política na América Latina, que tem eleito governantes mais próximos aos princípios do Fórum.
O secretário-geral do PT, Raul Pont, admitiu a preocupação no FSM sobre um possível revés de Lula. Segundo Pont, o PT não acredita no empate técnico e fará suas próprias pesquisas em breve. Para ele e o secretário de relações internacionais do partido, Valter Pomar, o PT manterá sua posição de cobrar do presidente uma decisão mais rápida sobre sua candidatura. Segundo Pomar, mesmo sem a decisão de Lula o PT já está em campanha eleitoral, inclusive no FSM.
¿ Já estamos em campanha. Aqui as pessoas estão muito simpáticas e receptivas tanto ao PT quanto ao governo. Na verdade, quem está mais acanhado aqui somos nós ¿ disse Pomar.
Discussão sobre diferenças na esquerda é negada
Segundo Ricardo Azevedo, presidente da Fundação Perseu Abramo, considerada um braço intelectual do partido, ontem, numa reunião convocada pela Frente Cívico-Militar da Venezuela, foi avaliado por grupos de esquerda que a reeleição do presidente Lula é fundamental para a consolidação da esquerda na América Latina. Os participantes da reunião disseram temer uma regressão caso o PSDB ou outro partido mais ao centro vença as eleições.
Pomar disse ainda que no FSM não ocorre uma discussão que diferencie tipos de esquerdas na América Latina, como estaria sendo afirmado pela imprensa, que vem destacando, por exemplo, o choque entre a linha política mais extremada do governo da Venezuela, de Hugo Chávez, e a do Brasil, mais ao centro. Segundo ele, essa classificação é feita pelos interesses dos EUA.
¿ Não há aqui na América Latina a turma do bem e a do mal. Quem quer colocar essas alcunhas é o governo dos EUA. O fato é que há uma esquerda hoje na América Latina. Tanto que Lula defendeu e apoiou tanto Evo Morales (Bolívia) como Michele Bachelet (Chile) neste processo ¿ disse Pomar.
Dirceu: `esquerdização¿ pode ser comprometida
O ex-ministro José Dirceu participa do FSM isolado do partido e do governo, mas falará do processo político da América Latina num dos debates do Fórum, convidado pela ONG Instituto Valores. Ontem, Dirceu disse que concorda com Lula em sua decisão de adiar o anúncio da candidatura, mas frisou que, sem sua reeleição, o processo de esquerdização ficará comprometido.
Segundo Dirceu, a integração da região acontecerá mesmo que o PSDB vença as eleições, mas não no atual contexto de esquerda. Na sua avaliação, num segundo mandato Lula poderá reduzir os juros e fazer mais investimentos na área social.
¿ Outro governo no Brasil causaria um impacto diferente, isto é um consenso para a América Latina. A integração não é um apanágio da esquerda, mas no Brasil a centro-direita tende para a Alca, por exemplo. É evidente que nós (do PT) estamos pensando em outro tipo de integração ¿ disse, depois de citar os possíveis avanços por causa das afinidades da esquerda com os vizinhos, como as integrações na segurança, nos recursos como petróleo e gás e na área financeira. (S.A.)