Título: Mudanças à vista
Autor: Lydia Medeiros, Adriana Vasconcelose Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 19/11/2004, O País, p. 3

A ida do ministro do Planejamento, Guido Mantega, para a vaga aberta com a saída de Carlos Lessa da presidência do BNDES aumentou a pressão dos partidos aliados pela reforma ministerial. Novas mudanças no primeiro escalão deverão ocorrer nos próximos dias. Num dia de muitos boatos e especulações sobre os rumos da reforma, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), confirmou, após encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Granja do Torto, que ele pretende abrir espaço aos aliados para formar um governo de coalizão de fato, com o objetivo de consolidar sua base parlamentar.

A idéia é pôr fim à crise política que afetou os trabalhos do Congresso e levou o PMDB, maior partido da base, a uma ameaça concreta de rompimento, com data marcada: 12 de dezembro. O PMDB, possivelmente, será um dos partidos mais beneficiados com a reforma, seja com o remanejamento de ministros para pastas mais importantes ou com um novo ministério.

¿ O presidente fez algumas mudanças na equipe e provavelmente fará outras. Tenho certeza de que está escalando a melhor seleção para enfrentar os desafios que temos pela frente. Ele está amadurecendo as consultas e trabalhando na perspectiva de um governo de coalizão ¿ afirmou Mercadante, após almoço com Lula.

No jantar marcado para hoje com a bancada do PMDB no Senado, Lula deve explicitar sua intenção e frear o movimento de setores do partido que defendem o afastamento do governo. Deverá dizer que deseja não apenas garantir maioria no Senado, mas dar ao partido um novo status no Executivo. Na noite de anteontem, essas idéias também foram discutidas com o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), que estará ausente do encontro de hoje, já que receberá uma homenagem no Amapá.

Sarney indica rumo para fim da crise

Antes de deixar Brasília, Sarney indicou ontem o caminho para o presidente acabar com a crise política:

¿ O governo precisa trocar as alianças partidárias pela coalizão.

Sarney contestou ainda a opinião do chefe da Casa Civil, José Dirceu, que afirmara semana passada que não seria preciso tomar qualquer atitude para manter o PMDB na base aliada:

¿ Não é possível largar o partido e achar que ele virá para o governo por gravidade. É preciso acompanhar.

O senador Tião Viana (PT-AC) tem opinião semelhante:

¿ É preciso dividir decisões, agruras e bons resultados. Essa é uma idéia da coalizão ideal ¿ disse Viana.

Apesar dessa disposição, dificilmente o Planejamento entra na negociação. O escolhido não será necessariamente um petista, mas o requisito indispensável é a afinidade total com a política econômica do ministro da Fazenda, Antonio Palocci. O temor de Lula é a repetição da dicotomia enfrentada no governo anterior, com a dupla Pedro Malan/José Serra, ex-ministros da Fazenda e do Planejamento.

Mercadante desmentiu especulações de que poderia substituir Mantega ou ocupar o Ministério da Saúde, pasta do desgastado petista pernambucano Humberto Costa:

¿ Sou líder do governo, com orgulho da função que exerço. Lula também está satisfeito com minha liderança ¿ afirmou o senador.

Antes do segundo turno, Mercadante dissera a colegas que poderia se tornar ministro e ganhar maior visibilidade para a disputa do governo de São Paulo, em 2006. Viana chegou a ser alertado de que poderia assumir o posto de líder. A derrota da prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PT), mudou os planos do senador. Além disso, Lula considera que o tempo que Mercadante teria no Ministério (menos de dois anos) seria muito curto para grandes realizações, o que poderia até prejudicar seus planos políticos.

Segundo ministros, a reforma será feita a conta-gotas até meados de dezembro, mas poderá ser mais profunda do que se imagina. Além de melhorar a posição do PMDB, que poderá ganhar a pasta das Cidades ou da Integração, Lula deve incorporar o PP. O ministro dos Esportes, Agnelo Queiroz, pode perder o cargo para o líder do PP na Câmara, Pedro Henry (MT).

Se o ministro da Integração, Ciro Gomes (PPS-CE), for transferido para o Planejamento, abrirá espaço para o ministro das Comunicações, Eunício Oliveira (PMDB-CE), na Integração. Isso permitiria que o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), fosse para a pasta de Comunicações e Jaques Wagner, do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, para a Coordenação Política. Inicialmente, o presidente pensava em fazer a reforma só no fim de janeiro, mas foi pressionado pela crise da base no Congresso.

Outra área que continua exigindo do governo melhores resultados é a social. Ultimamente, o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, vem se desentendendo com a secretária-executiva Ana Fonseca, uma escolha pessoal de Lula, mas que ontem era apontada como demissionária. Lula tem dito que não vai tirar Patrus. COLABORARAM: Cristiane Jungblut e Gerson Camarotti