Título: Presença do Rio no primeiro escalão fica restrita à Secretaria de Mulheres
Autor: Gerson Camarotti e Maria Lima
Fonte: O Globo, 19/11/2004, O País, p. 4

A saída de Carlos Lessa do comando do BNDES enfraqueceu ainda mais a representação do Rio de Janeiro no governo federal. Com a demissão de ontem, sobrou para o estado apenas o cargo da ministra Nilcea Freire, da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres, sem maior peso político. Já foram seis os cariocas e fluminenses com cargos importantes no governo Lula.

O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva já está preocupado com a situação do Rio, estado onde ele obteve uma das maiores votações no segundo turno das eleições presidenciais de 2002. Lula conquistou os votos de 6,3 milhões de fluminenses, ou 78,97% dos votos válidos, contra 1,6 milhão dados ao tucano José Serra.

Bittar: ¿Até o momento não fui consultado por ninguém¿

Segundo um ministro palaciano, Lula reconhece o esvaziamento do estado no primeiro escalão e estuda uma forma de compensá-lo. Por isso, ganha força no núcleo do governo o nome do deputado federal Jorge Bittar (PT-RJ), para ocupar o Planejamento no lugar de Guido Mantega.

¿ Até o momento não fui consultado por ninguém. O presidente Lula não falou comigo ¿ disse ontem Bittar.

Apesar das ressalvas de que não seria adequado abrigar no alto escalão do governo um derrotado nas eleições municipais, Lula considera que precisa compensar o Rio e que Bittar é um dos nomes mais representativos do partido no estado.

A bancada fluminense no Congresso não esconde mais o desconforto com a representação pífia do estado nos principais cargos do Executivo federal. Do primeiro dia do governo Lula até ontem, os principais cargos federais ocupados por cariocas foram trocando de mãos. Na primeira reforma ministerial, foram demitidos Benedita da Silva (Desenvolvimento Social), Miro Teixeira (Comunicações) e Roberto Amaral (Ciência e Tecnologia). Com a saída deles, Nilcea foi nomeada para a recém-criada Secretaria de Mulheres. O deputado Miro Teixeira (PPS-RJ) ainda foi nomeado líder do governo na Câmara, mas em seguida entregou o cargo.

Outra baixa importante foi a demissão do secretário nacional de Segurança Pública, Luiz Eduardo Soares. Também incomodou a bancada do Rio a saída do físico Luiz Pinguelli Rosa do comando da Eletrobrás, para compensar o PMDB. Na avaliação da bancada do Rio, Lula não está levando em conta que teve sua maior votação proporcional no Rio de Janeiro.

¿ Lula está usando uma lógica perversa contra o Rio de Janeiro, que não representa nada no governo federal. Deveria dar mais atenção ao Rio. Ele não está correspondendo ao apoio maciço que teve no estado em sua eleição. A população do Rio está muito frustrada, sentindo-se meio abandonada e até traída numa relação de aposta e entrega que não teve correspondência ¿ disse o deputado Chico Alencar (PT-RJ).

Na primeira reforma ministerial, Bittar foi cogitado para assumir o ministério do Planejamento, porque havia sido relator do Orçamento e secretário de Planejamento do Rio. Mas acabou não assumindo o ministério para disputar a prefeitura do Rio de Janeiro. Agora, o maior obstáculo para a sua nomeação é justamente o fato de ter sido derrotado na disputa municipal. Segundo um ministro, a expressiva derrota de Bittar enfraquece seu nome. Não é como o caso de Marta Suplicy em São Paulo, que foi derrotada, mas levou 45% dos votos dos paulistanos no segundo turno. Bittar teve só 3% dos votos.