Título: A candidata e o mendigo
Autor: Emeson Renon
Fonte: O Globo, 19/11/2004, O País, p. 12

Romeo Araújo, juiz eleitoral de Macapá, no Amapá, usou um disfarce de mendigo para dar um flagrante de crime eleitoral no comitê de uma candidata a vereadora. O episódio ficou conhecido apenas ontem, quando o Tribunal Regional Eleitoral do Amapá cassou o registro de Cleuma Duarte, que tinha sido a vereadora mais votada de Macapá pelo PMDB, com base no flagrante do juiz.

Romeo Araújo recebeu de uma eleitora a denúncia de que Cleuma, mulher do deputado estadual Edinho Duarte, estava pagando R$ 30 por cada voto. No dia da eleição, a eleitora Ana Lúcia Tavares levou o juiz disfarçado de mendigo ao comitê de Cleuma.

Ana Lúcia apresentou o mendigo, juntamente com outras pessoas, ao sobrinho da candidata, Herisson Duarte. Sem saber de quem se tratava, Duarte contou como tudo funcionava.

¿ Agora vocês vão receber R$ 10. Votam e retornam me dizendo como a candidata está na foto que vai aparecer na urna. Se descreverem corretamente, recebem os R$ 20 restantes ¿ explicou.

Duarte ainda pediu a todos que assinassem o recibo no valor de R$ 30, inclusive Romeo Araújo. Como um eleitor comum, o juiz assinou o recibo e depois deu voz de prisão a Herisson Duarte. Após a prisão, policiais entraram no comitê e apreenderam dinheiro, recibos e computadores.

Além de perder o registro, Cleuma vai pagar uma multa no valor de mil Ufirs. A decisão foi tomada pelo juiz da 2 Zona Eleitoral, João Guilherme Lages. Os advogados de Cleuma vão recorrer da decisão para que ela seja diplomada.

Além das provas apreendidas no comitê da candidata, o que mais pesou contra Cleuma Duarte foi o depoimento do juiz Romeo Araújo, que se tornou a principal testemunha de acusação, juntamente com Ana Lúcia. Eles contaram como funcionava todo o esquema de compra de votos pelos coordenadores da campanha de Cleuma Duarte.

No final do julgamento, chegou a ser feita uma acareação onde as testemunhas afirmaram que conheciam Herisson e Cleuma como as pessoas que articulavam a compra dos votos.