Título: Pensamento único no governo
Autor: Eliane Oliveira e Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 19/11/2004, Economia, p. 29
A decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de demitir Carlos Lessa, pelo qual tinha grande estima, reflete a difícil escolha que os últimos presidente eleitos foram obrigados a fazer para preservar o pensamento único na condução da política econômica. Assim como Lula, Fernando Henrique Cardoso viveu o mesmo embate entre os que apoiavam a política econômica com aperto fiscal e monetário e os que eram favoráveis ao desenvolvimento econômico. Fernando Henrique foi obrigado a demitir o seu amigo Clóvis Carvalho, então ministro-chefe da Casa Civil, e os irmãos Luiz Carlos Mendonça de Barros e José Roberto Mendonça de Barros, que eram desenvolvimentistas. Eles travaram uma verdadeira queda-de-braço com o então ministro Pedro Malan, que acabou ganhando a briga.
No governo de Itamar Franco não foi diferente. Apesar de fazer o discurso desenvolvimentista, ele deu carta branca ao então ministro da Fazenda Fernando Henrique para fazer o Plano Real que, entre outras medidas incluía uma maior abertura econômica, privatizações e aperto fiscal. O ex-presidente Collor também isolou do governo vozes discordantes da ministra Zélia Cardoso de Mello, como o ex-secretário de Política Econômica Antônio Kandir. Com o aval de Collor, Zélia promoveu o confisco da poupança.