Título: No BNDES, mais força para Palocci
Autor: Eliane Oliveira e Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 19/11/2004, Economia, p. 29
Opresidente Luiz Inácio Lula da Silva demitiu ontem do cargo de presidente do BNDES o economista e professor Carlos Lessa, um representante da ala desenvolvimentista que estava no cargo desde o início do governo. A saída de Lessa ¿ amplamente esperada após mais uma rodada de críticas ácidas à condução da política econômica ¿ fortalece ainda mais o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, como única mão a dirigir os rumos da política econômica do governo Lula. O cargo de Lessa será ocupado pelo atual ministro do Planejamento, Guido Mantega, que sempre trabalhou afinado com o colega da Fazenda. A vaga no ministério deve ser preenchida por alguém com o mesmo perfil.
Foi a segunda vitória de Palocci apenas esta semana sobre a ala petista que quer mudanças na economia. Na quarta-feira, o ministro já havia arrancado do presidente Lula a garantia de que teria total autonomia na escolha do substituto de Cassio Casseb na presidência do Banco do Brasil. A ala PT-sindical batalhava pelo ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, para ocupar o cargo, defendendo uma visão mais social e desenvolvimentista na maior instituição financeira do país.
Fazenda prefereum nome técnico
Nos corredores do Palácio do Planalto, assessores deixavam escapar que a intenção do presidente é uma só: na economia, manda Palocci. A saída de Lessa serve a este propósito, ainda, por deixar alguns representantes do PT sem porta-voz ¿ já que nem todos os nomes-chave da ala política do partido expressam em alto e bom som sua discordância da política econômica.
Para o lugar de Mantega, Lula analisava ontem algumas possibilidades: o deslocamento do ministro Ciro Gomes (Integração Nacional) ou a nomeação do deputado Jorge Bittar (PT-RJ), especialista em Orçamento e ex-secretário de Planejamento do Rio. O presidente considerava ainda uma terceira opção, mais técnica: o consultor Antoninho Marmo Trevisan, afinado com o PT e que, mesmo na iniciativa privada, vem trabalhando com Palocci.
Ciro seria o preferido de Lula, mas, até o início da noite de ontem, não havia sido consultado. Ele havia sido cogitado há um ano, mas houve resistência de Palocci, que temia ter nele um contraponto à sua linha na política econômica. O nome de Bittar surgiu por ser um dos petistas com mais afinidade com o tema Planejamento e por representar o Rio, quase ausente do primeiro escalão.
Contra Bittar pesa sua derrota na eleição municipal. Também foram citados o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), que descartou a possibilidade, o deputado Paulo Bernardo (PT-MG) e Marta Suplicy (PT-SP), hipótese mais remota.
Lessa vinha causando problemas desde que assumiu. Primeiro, porque não se considerava subordinado ao ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan. Tomava decisões sem consultar o ministro e defendia uma política nacionalista para o BNDES, enquanto Furlan queria abrir o banco para o capital nacional e estrangeiro. Furlan também se queixava do fato de o BNDES não trabalhar em sintonia com os projetos de política industrial desenvolvidos pela cúpula do governo na Câmara de Política Econômica e no Conselho de Desenvolvimento Industrial.
No entanto, avaliam fontes do governo, Lessa pecou ao direcionar suas críticas a Palocci e sua equipe.
¿ Furlan sempre tirou de letra as provocações de Lessa, que se recusava a submeter suas idéias ao ministro. Só que, desta vez, Lessa mexeu num vespeiro, ao criticar mais duramente o presidente do Banco Central (Henrique Meirelles) e a condução da política econômica ¿ disse um interlocutor de Furlan.
Mais afinado com Furlan e Palocci do que Lessa, Mantega terá de convencer o setor produtivo a investir sem mexer na essência da política econômica, marcada por juros altos.
A saída de Lessa foi decidida há cerca de uma semana, devido às suas críticas à política monetária do BC. Lessa chamou a gestão de Meirelles de ¿pesadelo¿. Sua exoneração foi costurada, na quarta-feira pela manhã, por Lula e os ministros Furlan, Palocci e Mantega.
No governo, a demissão não causou surpresa. O próprio Lessa sempre dizia que a imprensa o havia ¿demitido¿ várias vezes.