Título: Mantega: um desenvolvimentista afinado com a equipe de Palocci
Autor: Regina Alvarez
Fonte: O Globo, 19/11/2004, Economia, p. 30
A nomeação de Guido Mantega para o BNDES foi uma saída intermediária para atender às duas correntes que convivem no governo. De um lado, a equipe do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, gostaria de ver no banco alguém com perfil de mercado, como o ex-presidente do Banco do Brasil Cássio Casseb, que chegou a ser convidado para o cargo e recusou. De outro, os petistas históricos, que defendiam Lessa, não abririam mão de um substituto com perfil desenvolvimentista.
Mantega se enquadra nas exigências dos petistas históricos ¿ é um deles, inclusive ¿ porém mantém um bom relacionamento com o ministro da Fazenda. Ao contrário de Lessa, à frente do Ministério do Planejamento demonstrou que é disciplinado. Embora nos bastidores tenha discordado em diversos momentos da condução da política econômica, especialmente em relação à trajetória da taxa de juros, nunca manifestou suas opiniões em público.
Críticas internas sobrefalta de ousadia do BC
Mantega acha, por exemplo, que o Banco Central foi muito pouco ousado no início do ano e não reduziu a taxa de juros como deveria, desperdiçando uma oportunidade que não se repetiu mais tarde. Ele também ficou contra o aumento do superávit primário decidido pela equipe do ministro Palocci. Preferia destinar mais recursos para a infra-estrutura. Mantega se desgastou com o Congresso por causa de cortes no Orçamento. Houve também reclamações de outros ministros, como no episódio em que o colega da Agricultura, Roberto Rodrigues, foi pouco elegante ao se referir a Mantega, durante uma reunião com a bancada ruralista, reclamando de cortes no Orçamento da Agricultura.
Durante a sua gestão, Mantega foi responsável pelo acordo que garantiu reajustes de até 35% aos servidores públicos, acabando com uma greve que causou grande desgaste ao governo. O ministro lutou para aprovar o projeto das Parcerias Público-Privadas (PPPs) no Congresso, embora os louros tenham ficado com o Ministério da Fazenda, que propôs mudanças no projeto capazes de acalmar a oposição.
O novo presidente do BNDES tem uma relação próxima com o presidente da República. É o mais antigo assessor de Lula e, como ele, tinha posições radicais. Contribuiu com o programa econômico do partido desde a eleição de 1989. A partir de 1993, tornou-se assessor econômico do próprio Lula e foi um dos coordenadores do programa econômico de 2002.
Ex-ministro escreveu sobre sexo e poder
Nascido em Gênova, na Itália, o novo presidente do BNDES é formado em economia pela Faculdade de Economia e Administração da USP, fez doutorado em Sociologia do Desenvolvimento também na USP e especialização no Institute of Development Studies (IDS) na Universidade de Sussex, na Inglaterra. Tem vários livros publicados, a maioria sobre economia, mas um deles fugiu do tema. Na década de 80, Mantega escreveu um tratado sobre ¿Sexo e Poder¿, com um grupo de sociólogos.