Título: Empresários aplaudem mudança e Fiesp aposta numa nova parceria
Autor: Jorge Henrique Cordeiro, Fabiana Parajara
Fonte: O Globo, 19/11/2004, Economia, p. 30

A maioria dos setores empresariais considerou positiva a saída de Carlos Lessa da presidência do BNDES. O gosto pela polêmica, a dificuldade de diálogo com alguns segmentos produtivos e a falta de sintonia com outras áreas do governo foram apontados como os principais motivos para a demissão de Lessa. Entre empresários e economistas, o ministro do Planejamento, Guido Mantega, que vai assumir a presidência do BNDES, é visto como uma pessoa menos impetuosa, mas que deve seguir a mesma linha da atual gestão, de apoio ao desenvolvimento e à política industrial do governo.

As duas maiores entidades industriais do país, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e a Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgaram notas com tons diferentes.

A Fiesp poupou Carlos Lessa de críticas, afirmando apenas que sua passagem pelo BNDES foi ¿marcada pelo seu estilo próprio de trabalhar, tendo cumprido sua missão¿. Sobre a escolha de Mantega, a nota assinada pelo presidente da entidade, Paulo Skaf, diz esperar que ele seja ¿parceiro na luta pelo crescimento sustentado, buscando ampliar o apoio do BNDES à nossa indústria¿.

Iedi lamenta troca no comando da instituição

A nota da CNI, assinada pelo presidente Armando Monteiro Neto, foi mais enfática ao condenar a postura de Lessa, afirmando que ¿não é possível existir, no âmbito da própria equipe do governo, discussões sobre os rumos da política econômica¿. Quem também não economizou críticas foi o presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletrônicos (Eletros), Paulo Saab:

¿ Não havia diálogo. Só conseguimos nos aproximar por meio das área técnicas. Agora, espero que o banco seja mais ativo e se mostre como grande desenvolvedor do país.

O presidente do Banco Itaú, Roberto Setúbal, evitou criticar Lessa diretamente, mas afirmou que Mantega estaria mais alinhado com o modelo seguido pelo governo, dando mais unidade à área econômica.

Já o diretor executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Gomes de Almeida, lamentou a saída de Lessa.

¿ Era uma pessoa ligada ao desenvolvimento e é disso que precisamos ¿ disse Gomes de Almeida. ¿ Espero que Mantega resista às investidas do mercado financeiro e mantenha o banco como uma instituição do desenvolvimento.

Economistas com trânsito no governo afirmam que, em termos de visão de política industrial e de desenvolvimento, não há muitas diferenças entre Mantega e Lessa. O que muda é o estilo. Enquanto Lessa tem por hábito falar tudo o que pensa, incluindo aí suas opiniões sobre a política monetária, Mantega é bem mais contido.

Na opinião do economista Roberto Procópio Lima Netto, ex-diretor do BNDES e professor do Ibmec/RJ, Lessa saiu por causa de suas críticas públicas ao governo, e não por supostas falhas em sua gestão no banco:

¿ A burocracia no BNDES vem aumentando há tempos, desde antes do governo Lula.