Título: Agenda pronta
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Fonte: O Globo, 23/11/2004, Opinião, p. 6

A reunião do diretório nacional do PT, realizada em São Paulo, era um palco à disposição das correntes partidárias que se opõem à política econômica do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. O momento vinha a calhar para as já clássicas reclamações contra a política monetária e ¿ de forma mais dissimulada ¿ contra a austeridade no manejo dos gastos públicos.

Afinal, representantes dessas correntes derrotados nas eleições municipais procurariam jogar sobre os ombros largos da equipe do ministro Antonio Palocci, da Fazenda, boa parte da responsabilidade pelo insucesso nas urnas. Aconteceu o previsto, inclusive com a adesão de outrora aliados de Lula, e até mesmo de ministros ¿ Tarso Genro, da Educação, e Olívio Dutra, de Cidades.

Para a ala esquerda do PT não importa o fato objetivo de que a política econômica tem mantido o país estabilizado. Na verdade, a economia foi fator eleitoral positivo para o PT. Mas como este é um embate ideológico, tudo vale para atingir o adversário. Até mesmo a morte do economista Celso Furtado inspirou alguns a disparar contra o Ministério da Fazenda. Porém, apesar desses ruídos, venceu, por fim, o bom senso majoritário no diretório ¿ como ficou expresso no texto da resolução do encontro. Com acerto, preservaram-se os fundamentos da política econômica e fez-se uma sempre necessária profissão de fé na estabilidade monetária e no combate à inflação.

O diretório avançou ao comprometer o partido com a luta por ¿superar os gargalos do crescimento (...)¿. Este é um ponto-chave na atual conjuntura do país. Pois a economia retomou o crescimento e corre o risco de estancar por causa desses entraves.

E nisso o PT e aliados têm uma agenda pronta à disposição. Seja por meio da aprovação de projetos de lei e emendas constitucionais, ou pela indução ao governo a tomar medidas administrativas, cabe ao partido trabalhar, por exemplo, para reduzir a carga tributária, desburocratizar a vida do empreendedor, minimizar de fato os riscos regulatórios e com isso incentivar os investimentos, e realizar a reforma trabalhista.

Este é o melhor caminho para o PT trilhar rumo a 2006.