Título: Lula reúne ministros do PT para discutir reforma
Autor: Luiza Damé e Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 23/11/2004, O País, p. 10

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente do PT, José Genoino, reuniram-se ontem à noite, na Granja do Torto, com ministros petistas para uma análise de um assunto que movimentou o partido nos últimos dias: a necessidade de reduzir o espaço do PT no primeiro escalão para abrigar os aliados no anunciado governo de coalizão. Um ministro confirmou ontem à noite que a reunião com os petistas seria mesmo para o presidente deflagrar a reforma ministerial e avisar aos companheiros de partido sobre a redefinição do espaço do PT na Esplanada. A idéia de Lula é tentar fazer as mudanças necessárias antes da reunião ministerial dos dias 10 e 11 de dezembro, mas isso dependerá de muitas negociações políticas.

Também foi discutida a decisão do diretório nacional do PT, como queriam as alas radicais do partido, de convocar o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, para explicar a política econômica.

¿Ano de obras¿ em 2005

São 17 os ministros e secretários petistas no primeiro escalão, mas para o encontro de ontem na Granja nem todos foram convocados. Chegaram logo cedo, alguns até antes do presidente, Antonio Palocci, José Dirceu (Casa Civil), Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência), Humberto Costa (Saúde), Luiz Gushiken (Comunicação de Governo), Jaques Wagner (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social), Dilma Roussef (Minas e Energia) e Miguel Rossetto (Reforma Agrária). Segundo a assessoria do Palácio do Planalto, todos os ministros estiveram presentes, à exceção de Tarso Genro (Educação), que está na Espanha.

Também ontem o Palácio do Planalto confirmou que a reunião ministerial de dezembro fará um balanço do governo e decidirá os programas prioritários nos próximos dois anos com vistas às eleições de 2006. Lula tem dito que 2005 será o ¿ano das obras e realizações¿. A reunião ministerial ocorrerá 48 horas antes da convenção nacional do PMDB, marcada para o dia 12 e durante a qual o partido decidirá se continua na base.

Lula pede pela classe média

A reunião de ontem foi articulada por Genoino, que quis levar ao presidente e a todos os ministros a discussão que ocorreu na reunião do diretório nacional. Mas seria também a oportunidade de Lula avisar aos companheiros de partido sobre as mudanças no Ministério e a possibilidade de algum petista ser removido da Esplanada. O próprio Lula já adiantou que para fazer um governo de coalizão, de fato, precisa ampliar o espaço do PMDB e acolher o PP na sua equipe.

Entre os petistas citados para deixar o cargo estão Humberto Costa, da Saúde, e Olívio Dutra, das Cidades. Preocupados com os anúncios de mudanças na equipe, os ministros procuraram Genoino e pediram um encontro.

¿ Genoino procurou o presidente, que incorporou a idéia e decidiu fazer a conversa na Granja do Torto ¿ confirmou um auxiliar do presidente.

Lula aproveitaria o encontro de ontem para discutir também com os ministros de seu partido a necessidade de o governo ter um projeto claro para a classe média e uma marca definida, como foi o Plano Real para o governo Fernando Henrique. Lula, segundo assessores, repetiu que o ano de 2005 será crucial para o governo e para suas chances na eleição de 2006. E que a maior responsabilidade caberá ao PT.

No BB, escolha será técnica

Nesta semana, o presidente vai se dedicar a escolher prioritariamente os substitutos do ministro do Planejamento e do presidente do Banco do Brasil, dois postos que estão vagos. Mas o anúncio dos nomes não deve ocorrer imediatamente. Segundo assessores, Lula está analisando a questão e pretende agora anunciar em bloco as mudanças e não mais isoladamente, como pretendia inicialmente. No caso do Planejamento e do Banco do Brasil, são escolhas mais técnicas do que políticas que o presidente quer tomar antes de começar a dividir o espaço com os aliados para a formação do governo de coalizão.

O presidente conversou ontem com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, sobre os nomes para o Banco do Brasil e Planejamento. Lula deixou claro que o futuro ministro do Planejamento terá um perfil semelhante ao de Guido Mantega, deslocado para a presidência do BNDES: tem que ser totalmente afinado com Palocci. Mas, ao mesmo tempo, Lula quer manter alguém com visão desenvolvimentista na equipe de governo.

¿ O presidente não deve fazer os anúncios imediatamente. Ele está esperando a evolução das negociações ¿ disse um integrante do Planalto.

No caso do BB, o presidente interino Rossano Maranhão poderá se manter no cargo. Já Ciro Gomes (Integração Nacional) foi praticamente descartado para o Planejamento.

Agnelo Queiroz diz que continua

Um dos cotados para deixar a equipe de Lula, o ministro dos Esportes, Agnelo Queiroz, disse ontem que continua no cargo, pelo menos por enquanto. Agnelo disse que a posição do governo tinha sido explicitada na sexta-feira, quando o Palácio do Planalto divulgou nota desmentindo que o deputado Pedro Henry (PP-MT) seria o novo ministro dos Esportes.

¿ Fico com a nota de sexta-feira. Mas, com relação à reforma, só o presidente pode falar ¿ disse Agnelo.

Lula decidiu também que o futuro do ministro Aldo Rebelo, da Coordenação Política, está diretamente relacionado com a resolução do PMDB de continuar ou sair do governo. Lula confidenciou a interlocutores que não deseja tirar Aldo da articulação política do Planalto. Pelo contrário. Nos últimos dias, ele tem reforçado todas as teses do ministro palaciano de tentar manter o PMDB no governo e com isso fazer um governo de coalizão.