Título: Tereza Cruvinel
Autor:
Fonte: O Globo, 24/11/2004, O país, p. 2

Oposição pelo retrovisor

Por estes dias o senador Heráclito Fortes (PFL-PI) protestou contra o excesso de medidas provisórias usando o discurso que um petista fez no tempo de FH. Não teve o prazer de revelar o autor porque ninguém do governo atual reagiu.

Ontem a oposição tucano-pefelista chegou à perfeição ao imitar o velho estilo petista de fazer oposição: declarou-se em guerra, impondo exigências para apreciar qualquer matéria. Tem razão em muitas coisas, sobretudo no descumprimento, pelo governo, de alguns acertos feitos em outras votações.

Seu pecado mortal, entretanto, está sendo a insurgência contra um valor que tanto defendeu no governo passado, como a Lei de Responsabilidade Fiscal.

O líder do PSDB, Arthur Virgílio, chegou a declarar que o PSDB obrigará o governo a renegociar a dívida de seus prefeitos eleitos: ¿Eles sabem que a gente paralisa o Congresso, se quiser. Eles não têm maioria acachapante. Então vamos ser pragmáticos¿, tem dito ele.

Na prática isso significa flexibilizar a lei fiscal para quem tem poder de fogo, como se ela não fosse, como diziam os tucanos no passado, um valor perene que deve valer para sempre e para todos.

Em relação ao projeto das PPPs, que ainda precisa ser votado numa comissão antes de ir ao plenário, Virgílio diz que agora foi tudo acertado mas que ele só será votado ¿um dia¿, quando a oposição quiser.

Não é esta a posição, por exemplo, do senador Tasso Jereissati, que foi o maior crítico do texto original, em cima do qual o líder Mercadante negociou mudanças que o tornaram de fato melhor.

Mas quando o líder tucano reconhece que, embora esteja correto, o projeto não será votado por pinimba, faz pior do que faziam os petistas no passado, quando nunca tinham provado a experiência de governar. Diferentemente da atual oposição.

EVENTUAL candidato a presidente pela coligação PDT-PPS, o senador Jefferson Peres encontra-se hoje com Miguel Arraes, presidente do PSB. O senador acha que o projeto será muito mais viável se atrair o PSB, velho aliado do PT.

O DEPUTADO João Hermann, brigado com Roberto Freire, saiu ontem do PPS e entrou para o PDT. Mudou de partido mas não de projeto.

FALTAM só alguns detalhes para o ingresso do governador Paulo Hartung (ES) entrar no PMDB.