Título: Brasil e Canadá fazem trégua para negociar acordo na venda de aviões
Autor: Eliane Oliveira e Luiza Damé
Fonte: O Globo, 24/11/2004, Economia, p. 28

Oito anos depois de uma guerra sem precedentes na história do comércio internacional de aeronaves, Brasil e Canadá decidiram ontem esquecer o passado e pensar num acordo futuro, para a fixação de regras que impeçam subsídios distorcidos e anticompetitivos na venda e na fabricação de aviões. Num encontro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o primeiro-ministro canadense, Paul Martin, ficou decidido que, apesar de a Organização Mundial do Comércio (OMC) ter autorizado os dois países a se retaliarem mutuamente, brasileiros e canadenses abrirão mão desse direito.

¿ Vamos colocar uma pedra sobre o passado e pensar agora no futuro ¿ resumiu o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan.

Mas o ministro deixou claro que o fim da animosidade não significa que novos problemas serão evitados. Furlan se mostrou preocupado com o fato de a fabricante de aeronaves Bombardier estar pleiteando US$ 700 milhões do governo canadense para a produção de aviões de grande porte:

¿ Mecanismos que distorcem o mercado não são aceitáveis.

Acordo terá regras para subvenções e subsídios

A briga entre os dois países começou em 1996. Na época, o Canadá contestou na OMC os recursos repassados à Embraer pelo Programa de Financiamento às Exportações (Proex). O Brasil fez o mesmo, questionando a ajuda à Bombardier em três programas canadenses. No fim de 2000, a OMC autorizou o Canadá a retaliar comercialmente o Brasil em US$ 1,4 bilhão. Dois anos depois, os brasileiros conquistaram o direito de sobretaxar as importações canadenses em US$ 248 milhões.

¿ Não importam os valores. Ambos os lados tinham poder de prejudicar o comércio. Afinal, qual é a diferença entre três bombas e uma bomba? ¿ perguntou o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.

Até o fim do ano, brasileiros e canadenses voltam a negociar acordo com regras para subvenções e subsídios. O encontro deverá acontecer no Brasil.

Tanto Lula como Martin destacaram, em discursos, o clima de reconciliação que traduziu a retomada das conversas.

¿ Avançamos nas conversas bilaterais sobre a indústria aeronáutica. Estamos aprofundando a compreensão e ampliando a confiança para a conclusão de um acordo no mais curto prazo possível ¿ disse Lula.

O primeiro-ministro canadense enfatizou a disposição de seu governo de estreitar as relações com os brasileiros:

¿ Já houve diferenças de opiniões entre Brasil e Canadá. Certamente, na longa reunião que tivemos, obtivemos sucesso em nosso objetivo de revigorar e lançar uma importante relação entre nossos países.