Título: Bancos repassam alta dos juros aos clientes
Autor: Enio Vieira
Fonte: O Globo, 24/11/2004, Economia, p. 33

O sistema financeiro nacional repassou ao consumidor e às empresas mais da metade do aumento de juros de 0,75 ponto percentual que o Banco Central (BC) promoveu nos meses de setembro (0,25 ponto percentual) e outubro (0,5 ponto percentual). De acordo com o relatório sobre juros e spread bancário (diferença entre o custo de captação dos bancos e o que eles cobram dos consumidores, refletindo seu lucro e o peso dos impostos) divulgado ontem pelo BC, a taxa média de juros cobrada pelos bancos subiu de 45,1% em setembro para 45,6% ao ano em outubro.

Trata-se da maior taxa média desde dezembro do ano passado (45,8%), quando o BC interrompeu o agressivo período de redução dos juros básicos que ocorreu no segundo semestre. O aumento do spread bancário foi outro fator de pressão: na média, subiu de 27,7% em setembro para 28,1% ao ano em outubro.

A alta também é reflexo do aumento dos juros futuros que vinham subindo desde julho, quando o BC começou a indicar que se preparava para apertar a política monetária. No caso do cheque especial, a taxa passou de 140,6% em setembro para 141,1% ao ano no mês seguinte. Em novembro, o BC aumentou a Taxa Selic novamente em meio ponto.

Crédito com desconto em folha cresceu 73%

Mas o encarecimento do crédito não se refletiu em diminuição dos pedidos de financiamento. O volume de crédito com recursos livres (exceto habitação, crédito popular e rural) subiu de R$ 263,1 bilhões para R$ 268,4 bilhões no mês passado, representando 26,9% do Produto Interno Bruto (PIB). As empresas responderam por R$ 159,5 bilhões e as pessoas físicas, por R$ 108,5 bilhões. Os recursos direcionados somaram R$ 172,7 bilhões em outubro, representando uma elevação de 8,3% em 2004.

O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, minimizou o aumento do custo do crédito, que para ele foi pequeno. Ele lembrou que, especificamente no caso dos empréstimos a pessoas físicas, os juros ficaram parados em 63,2% ao ano em outubro, enquanto para as empresas subiram de 30,4% para 31,1% ao ano. Lopes ressaltou ainda que está havendo migração do cheque especial ¿ cuja taxa média explodiu, passando de 140,6% a 141,1% ¿ para crédito pessoal e empréstimos com desconto na folha de pagamento.

¿ O crédito consignado (com desconto na folha de pagamento de trabalhadores) atingiu R$ 10,917 bilhões no mês passado, crescendo 73% de fevereiro a outubro. Os juros dessas operações vinham caindo e se estabilizaram em 39,12% ao ano em outubro, muito mais baixos do que os do crédito pessoal (CDC), que estão estáveis em 73,8% ao ano ¿ explicou o economista do BC.

Para ele, a situação do mercado de crédito é positiva. A inadimplência da pessoa física caiu de 13,4% para 12,7% entre setembro e outubro:

¿ O décimo terceiro salário ainda deverá ser usado para reduzir a inadimplência.