Título: Para Unaids, Brasil dá pouca atenção a usuários de drogas
Autor: Fernando Duarte
Fonte: O Globo, 24/11/2004, Omundo, p. 34

Embora sempre seja elogiado por seus programas de combate e prevenção à Aids, o Brasil ontem recebeu críticas da Unaids. Para a agência das Nações Unidas, o país não está priorizando como deveria o problema do aumento do número de casos da doença entre os usuários de drogas injetáveis. Segundo o Boletim Epidemiológico divulgado ontem, em Porto Alegre, por exemplo, o uso de drogas injetáveis é responsável por 64% dos casos de contaminação.

¿ O problema dos viciados é um sério desafio para o Brasil. Por mais louváveis que tenham sido os esforços do país em seu programa de Aids, é necessário agora que a questão das drogas não seja simplesmente varrida para baixo do tapete e acabe prejudicando o quadro geral ¿ afirmou Kathleen Craveiro.

O diretor do programa de Aids do Ministério da Saúde, Pedro Chequer, reagiu duramente às críticas. Em tom incisivo, Chequer disse que nenhuma agência das Nações Unidas tem o direito de orientar o Brasil sobre o problema. Chequer lembrou que muito antes de a Unaids pensar na idéia, o país já implementava em algumas cidades programas de distribuição de seringas a dependentes químicos:

¿ O governo brasileiro vai manter o nível técnico que conquistou e tem experiência suficiente nessa área para ensinar à Unaids.

Chequer confirmou os números de Porto Alegre citados no relatório, mas ressaltou:

¿ Não podemos tomar uma situação isolada como realidade nacional. O próprio relatório diz que o programa de redução de danos do Brasil tem avançado em várias regiões.

O diretor do programa admitiu, entretanto, que a cobertura da redução de danos ainda é precária em Porto Alegre, pois atinge apenas 20% dos dependentes de drogas injetáveis. Segundo Chequer, existem dez mil dependentes no município. Anualmente, são distribuídas na cidade 250 mil seringas ¿ uma quantidade ainda muito aquém da necessária.

¿ Reconheço a necessidade de ampliação na cobertura do atendimento a usuários de drogas injetáveis em Porto Alegre e vamos trabalhar para isso em 2005. Assim como também ampliaremos o atendimento a mulheres e populações de baixa renda portadores do HIV. Jamais colocaríamos esse problema debaixo do tapete