Título: Críticas a Kirchner levam à demissão de Di Tella
Autor: Janaína Figueiredo
Fonte: O Globo, 24/11/2004, O mundo, p. 35

¿Este governo é um circo e o presidente Kirchner é o dono do circo¿. Após expressar sua opinião sobre o atual governo da Argentina, o polêmico sociólogo Torcuato Di Tella, um dos poucos intelectuais convocado pelo presidente Néstor Kirchner para integrar seu Ministério, foi obrigado a renunciar ao cargo de secretário da Cultura. As declarações de Di Tella, divulgadas pela imprensa durante a realização do III Congresso Internacional sobre a Língua Espanhola, evento que contou com a participação dos reis da Espanha, provocaram a ira do presidente argentino, que ontem mesmo designou como novo secretário da Cultura o cientista político José Nun.

Di Tella: ¿Avisei que digo o que penso¿

Di Tella, um dos intelectuais mais importantes do país, autor de vários livros sobre o peronismo, abandonou o governo Kirchner em meio a um forte debate sobre a dificuldade do presidente em conviver com as poucas críticas que são feitas a seu governo. Kirchner foi acusado por líderes opositores, entre os quais a ex-candidata à Presidência Elisa Carrió, de manipular a imprensa e censurar opiniões contrárias a sua gestão.

Ontem, o ex-secretário da Cultura sequer foi recebido por Kirchner na Casa Rosada. O encarregado de confirmar a decisão do governo de aceitar a renúncia do funcionário foi o porta-voz, Miguel Nuñez. Perguntado sobre o escândalo provocado por suas declarações, Di Tella lembrou que antes de assumir o cargo avisou que muitas vezes dizia o que pensava ¿sem pensar em evitar conflitos¿.

¿Em meio a tanto problema, cultura não é prioridade¿

Segundo o sociólogo argentino, que antes das eleições presidenciais de 2003 lançou um livro baseado em conversas com Kirchner, a opinião pública argentina está adormecida pelos meios de comunicação, ¿que são o grande sonífero deste país¿. Em entrevista à revista ¿TXT¿ ainda secretário da Cultura, ele assegurara que Kirchner devia dedicar mais tempo a problemas como a fome: ¿Em meio a todos os problemas que tem este país, a cultura é o menos importante. Não é prioridade para o governo nem para mim.¿