Título: Pobreza absoluta espreita palestinos
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 24/11/2004, O mundo, p. 36
Por trás das imagens do crônico conflito armado entre Israel e palestinos exibidas diariamente na TV há uma realidade ainda mais cruel: os palestinos vêm sendo impelidos aos poucos, mas firmemente, à pobreza absoluta. Enquanto muitos morrem a bala, milhares têm morrido de fome.
Essa é, em síntese, a conclusão de um informe divulgado ontem pelo Banco Mundial (Bird), com base numa extensa pesquisa realizada ao longo dos últimos quatro anos. Ou seja: desde o reinício da intifada, o levante palestino na Cisjordândia e na Faixa de Gaza em protesto contra a ocupação israelense, em setembro de 2000.
Restrições impostas por Israel são decisivas
Praticamente metade (47%) dos palestinos está abaixo da linha de pobreza. Ou seja: são 1,7 milhão de pessoas vivendo como miseráveis. E nada menos do que 607 mil (12% da população) não conseguem o suficiente para comer.
A radiografia feita pelo Bird aponta três motivos básicos para essa situação: a constante restrição do livre trânsito, inclusive de pedestres, entre o território palestino e Israel; os rotineiros toques de recolher, que obrigam palestinos a permanecer dentro de casa; e a construção do muro da Cisjordânia. Já foram construídos 185 quilômetros do muro, que terá um total de 622 quilômetros, complicando mais a situação. Atualmente há 140 postos de controle na Cisjordânia, 30 em Gaza e mais 200 barreiras em estradas.
¿ As restrições ao ir e vir são um fator essencial por trás da crise econômica na Cisjordânia. Elas têm fragmentado o espaço econômico palestino, aumentado os custos de negócios, e eliminado a previsibilidade necessária para conduzir negócios ¿ disse Nigel Roberts, diretor do Bird para a Cisjordânia e Gaza.
Os palestinos vivem sob profunda recessão. Sua economia está estagnada. O padrão de vida declinou dramaticamente. A renda per capita caiu 40%. O índice de desemprego é de 28,6%. E ainda assim, os que têm trabalho não ganham o suficiente para manter a família.
¿Não fossem os programas de ajuda externa, de doadores internacionais, mais 250 mil pessoas teriam caído para a faixa da pobreza de subsistência¿, diz um trecho do informe, contando que tal assistência é de US$ 950 milhões anuais.
Isso é o equivalente a US$ 258,00 por pessoa, o que é insuficiente para reverter a situação. Afinal, são US$ 0,70 por dia para cada palestino. O pior, segundo o Bird, é que essa assistência pode acabar:
¿ Os doadores duplicaram os desembolsos desde a intifada e isso tem impedido uma queda mais drástica dos padrões de vida. Mas esses índices de assistência não podem ser mantidos indefinidamente ¿ disse Roberts.
Pobreza cresce também em Israel
O informe diz que a principal solução seria ¿uma radical liberação das restrições ao trânsito¿, inclusive nas fronteiras externas dos territórios ocupados. Isso permitiria que um número maior de palestinos conseguisse emprego em Israel, e impulsionaria o crescimento do comércio internacional: as exportações cresceriam 30%, e o PIB (que este ano subiu 1,6%) teria um crescimento de 9,2% anuais a partir de 2006.
Nos últimos anos, a pobreza também passou a afligir israelenses, segundo o Instituto Nacional de Seguros (INS), que apontou a existência de 1,42 milhão de pessoas abaixo da linha de pobreza em 2003, equivalente a 22,4% da população. Com agências internacionais