Título: Cenas de uma TPM
Autor: Helena Chagas
Fonte: O Globo, 29/11/2004, O País, p. 4

Nada mais patético do que um candidato a ministro em campanha. É o que mais se vê pelos corredores e gabinetes do poder nesta temporada de reforma que vai dar mais espaço ao PMDB, ao PTB e ao PP. O problema é que pouco se sabe além disso. O silêncio de Lula dá nos nervos de quem acha que pode entrar e de quem não quer sair. A tensão pré-ministerial chega ao nível máximo.

E as cenas se sucedem, algumas constrangedoras, outras até engraçadas. Petistas influentes são abordados no Congresso, na Esplanada e nos restaurantes por aliados de outros partidos que solicitam apoio para pretensões ministeriais. O prefeito de Aracaju, Marcelo Déda, outro dia ouviu pacientemente o pedido de um ministeriável desconhecido. Mesmo depois da conversa continuou sem saber o nome do interlocutor.

O PP passou pelo vexame de ver seu presidente, Pedro Corrêa, ser desmentido publicamente pelo Planalto depois de anunciar que o líder Pedro Henry já era ministro ¿ só não sabia de quê. No PTB, o nome mais forte, Luiz Antônio Fleury, passeia pelo plenário da Câmara com ares ministeriais.

Para escapar da TPM, ou pelo menos vivê-la de forma menos desgastante, só fugindo. Foi o que fez semana passada a senadora Roseana Sarney (PFL-MA), acometida de dores de garganta e febre alta tão logo seu nome começou a aparecer com insistência nas listas de novos ministros.

Mas apesar de fechado em copas e sem falar do assunto com a maioria de seus ministros, Lula e uns poucos interlocutores têm dado sinais, aqui e ali, do que pode acontecer por aí. Por exemplo:

1. Assim é se lhe parece: Roseana pode ser ministra, mas não do PMDB. Seria um malabarismo. Lula nomearia a filha de José Sarney para um ministério de forma a pacificar a situação no PMDB e compensar o ex-presidente, se Renan Calheiros ficar com a presidência do Senado. Mas, para não melindrar o mesmo PMDB ¿ que com tantos e tão ambiciosos quadros iria reagir ao ter uma ministra que até a véspera era do PFL ¿ a senadora não será incluída na cota peemedebista. Pode se licenciar do PFL e ficar sem partido. Ou melhor, só no de Sarney.

2. O importante é a conta. A coisa chegou a tal ponto que ninguém faz mais questão de manter as aparências e revestir com algum programa, idéia ou proposta de trabalho a cobiça por um ministério. O líder do PMDB, José Borba, definiu outro dia, com cruas palavras, o que deve ter a nova pasta do partido: conta. Ou seja, se não for possível levar a Integração Nacional ¿ já que a transferência de Ciro Gomes para o Planejamento esbarra uma vez mais em Antonio Palocci ¿, Cidades serve. Chegando lá, provavelmente com Eunício Oliveira, entregam as Comunicações.

3. O nome no PP é mesmo Pedro Henry. Apesar da trapalhada que quase incinerou o líder, ele é o candidato do PP ao ministério, com o apoio de João Paulo, Luizinho e outros articuladores na Câmara. Afinal, tem a maioria da bancada. Mas, em alguns gabinetes do Planalto ¿ inclusive, diz-se, naquele do terceiro andar ¿ ainda se busca outro nome. Outro dia o presidente citou diversas vezes, numa conversa, o deputado Francisco Dornelles. O ex-ministro do Trabalho de FH pode não ter total controle da bancada, mas tem poder de fogo junto a outros setores e personagens ¿ como o governador Aécio Neves, seu primo.

4. PTB: Fleury, Walfrido e Ciro. Se ganhar um novo ministério, o PTB vai indicar o ex-governador Luiz Antônio Fleury. Mas há quem diga que o Planalto pode engambelar o partido com outras soluções: transferir de pasta ou dar mais verbas a Walfrido Mares Guia ou acabar finalmente convencendo Ciro Gomes a se transferir para a legenda.

5. Roleta russa no PT. Vai sobrar para quem? Os ministros do PT, que já participaram semana passada de uma reunião em que o presidente levou uma série de guizos, esperam apenas para ver onde Lula vai amarrá-los. Olívio Dutra? Humberto Costa? Rosseto? Patrus?

6. Corações balançam. São poucos, pouquíssimos mesmo, os petistas que podem se dar ao luxo de escolher seu destino. Quer dizer, pelo menos em parte, e dentro daquilo que o presidente oferece. Para José Dirceu, o dilema entre a Casa Civil administrativa e sem articulação política ou a presidência da Câmara. Mercadante não sabe se é melhor ser ministro da Saúde ou líder no Senado.

7. A agonia continua. Para alguns, a TPM vai durar até fevereiro. João Paulo, por exemplo, que só então poderá sair da presidência da Câmara.