Título: Desafio nacional
Autor:
Fonte: O Globo, 29/11/2004, Opinião, p. 6

Em meio século, segundo o IBGE, a taxa anual de crescimento da população brasileira caiu para a metade: de 3% para o atual 1,5%. Essa queda, resultado do processo de urbanização e modernização, a par da elevação do nível educacional, seria já suficientemente baixa para permitir que os programas sociais promovessem uma melhoria geral da qualidade de vida, não fosse uma distorção estatística.

Porque na realidade a taxa atual de expansão demográfica é apenas uma média. Nas camadas da população de renda mais alta o índice é bem inferior, não chegando a 0,5%, enquanto entre as famílias mais carentes supera 2%. É o que explica, a par das correntes migratórias, o crescimento contínuo e aparentemente incontível das favelas e dos bairros pobres das cidades.

Em termos relativos e absolutos, o número de pobres não pára de crescer, esvaziando em boa parte os melhores projetos nas áreas da saúde pública, da educação e assim por diante. Essa anomalia demográfica tende ainda a acentuar a concentração de renda e agravar o problema das crianças de rua, com reflexos no nível de criminalidade.

O planejamento familiar, tema sempre controvertido, é, no entanto, a única saída razoável para esse estado de coisas. Mas para ser eficaz precisa tomar a forma de um programa maciço de esclarecimento e fornecimento de meios voltado para as mulheres das faixas mais carentes.

Isso exige um esforço contínuo e integrado dos governos federal, estaduais e municipais. Não é algo fácil de ser posto em prática, mas será um verdadeiro investimento no futuro do país.