Título: Boa chance para a Petrobras agir
Autor: BENITO PARET
Fonte: O Globo, 29/11/2004, Opinião, p. 7

Assim como o petróleo foi o motor da Sociedade Industrial, a Tecnologia da Informação é a energia do novo século. O software é o petróleo da Sociedade de Serviços. Produzi-lo em larga escala, desenvolver novas aplicações e tornar-se auto-suficiente nessa nova commodity , tem sido o sonho das nações no alvorecer da Nova Economia.

O Brasil está prestes a tornar-se auto-suficiente no abastecimento de petróleo, porque a sociedade brasileira foi às ruas, na metade do século passado, reivindicar a soberania do subsolo, num movimento nacional que resultou na criação da Petrobras.

Assim como concentrou esforços e capital para tornar o país auto-suficiente em petróleo, a sociedade brasileira precisa apoiar suas empresas de software, para que o Brasil se torne menos dependente da produção estrangeira. O Brasil tem enorme potencial para desenvolver uma indústria de software robusta e competitiva, que reduza significativamente a dependência externa na área de TI, que já representa um déficit superior a US$ 1 bilhão ano e com perspectivas de atingir US$ 5 bilhões em poucos anos. Basta, para isso, que tenha vontade política. E um bom exemplo do que pode fazer para que isso aconteça está dentro da própria Petrobras.

O renascimento da indústria naval do Rio de Janeiro só aconteceu porque a Petrobras mudou sua política de contratações e decidiu construir suas plataformas marítimas de produção no Brasil. Mais que isso: porque ela passou a exigir dos construtores um índice de nacionalização de componentes muito mais alto. Foi uma decisão fundamentalmente política de apoiar a indústria nacional. E que tem resultado em encomendas robustas a vários setores industriais, como os fabricantes de bombas, tubos, geradores, cabos etc. Mais ainda. Só a construção dos módulos de duas novas plataformas ¿ a P-43 e a P-48 ¿ gerou cerca de 11 mil empregos no estado.

A indústria brasileira de software, a exemplo da indústria naval, só precisa que o governo e as grandes corporações, como a Petrobras, decidam apoiá-la. Temos, no Rio de Janeiro, centenas de empresas que trabalham na área de TI com competência comprovada. Temos a maior concentração de cérebros e técnicos de excelente formação nas nossas universidades. O que falta é que o país acredite nesse potencial e decida desenvolvê-lo. O que falta à indústria de software do Rio de Janeiro não é capacidade. É que se faça o que tem sido feito com a indústria naval. São encomendas. Principalmente do setor público, maior consumidor individual de software do país.

A Petrobras, ao longo de sua história, com maior ou menor ênfase, de acordo com as diversas diretorias que por ali têm passado, tem adotado uma política de apoiar a indústria nacional. Chega até mesmo a investir nas empresas fornecedoras e universidades, para garantir suprimento de sua demanda de bens serviços. Vários setores industriais e de serviços têm se beneficiado dessa política. Mas, paradoxalmente, isso não tem acontecido na área de Tecnologia da Informação. Por alguma razão, que merecia reflexão mais aprofundada, tem preferido, com freqüência, importar produtos que poderiam ser desenvolvidos pela indústria nacional.

A Petrobras gastou recentemente cerca de US$ 250 milhões para implantar seu novo sistema gerencial. É muito dinheiro. Com esse volume de recursos, poderia perfeitamente ter financiado um consórcio nacional, que desenvolveria um sistema tão bom quanto o estrangeiro.

Além disso, esse é um produto que uma vez desenvolvido poderia ser comercializado pela indústria nacional com outras empresas, não só no Brasil como no exterior. Principalmente na América do Sul e na África, onde a Petrobras amplia suas atividades. Teríamos um produto nacional competitivo, que daria, certamente, bom retorno para a nossa indústria.

A Petrobras, portanto, está no caminho certo quando se volta para a indústria nacional. Mas, como uma das empresas que mais consomem software do país, precisa olhar com mais atenção para a área de Tecnologia da Informação. BENITO PARET é presidente do Sindicato das Empresas de Informática do Estado do Rio de Janeiro e diretor executivo da Riosoft.