Título: CNI não vê oferta menor e FGV cita fôlego para investir
Autor: Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 29/11/2004, Economia, p. 19

A preocupação do Banco Central (BC) com o elevado nível de utilização da capacidade instalada na indústria pode, ironicamente, desestimular novos investimentos para ampliar o parque fabril nacional. O economista Flávio Castelo Branco, coordenador de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), alega que, ao subir os juros, o BC dá um sinal de que pretende frear o ritmo de crescimento da economia. Com isso, os empresários podem perder o incentivo a investir:

¿ O BC tem dado muita ênfase de que talvez tenhamos um estrangulamento na oferta (de produtos pela indústria). Mas é preciso levar em conta que a expectativa de crescimento de demanda por parte dos empresários estimula os investimentos. A elevação dos juros, é um sinal negativo para essas expectativas.

O BC, por sua vez, vê essa dinâmica por outro lado. Ao constatar a elevada utilização da capacidade instalada, o Comitê de Política Monetária do BC (Copom), que fixa as taxas de juros, interpreta que, se a economia continuar aquecida, pode haver escassez de produtos no mercado, o que levaria a aumentos de preços. Essa seria uma das justificativas para subir os juros e, assim, frear a atividade econômica, evitando a alta da inflação. ¿Um foco importante de preocupação do Copom em relação à dinâmica prospectiva da inflação centra-se no desempenho da oferta agregada. A utilização média da capacidade instalada na indústria, medida pela FGV, elevou-se para 86,1% em outubro, contra 84,5% em julho¿, diz a ata da última reunião do Copom.

Castelo Branco, da CNI, argumenta que o mês de outubro, sazonalmente, é o pico da atividade industrial, quando as empresas estão produzindo para o Natal. Como a tendência é de redução no ritmo de produção, não haverá problemas de oferta pelo menos nos próximos seis meses. Além disso, na última sondagem industrial realizada pela CNI, a maioria dos empresários afirmou que sua oferta de produtos estaria de acordo com a demanda estimada. E quem respondeu que esperava uma demanda superior à oferta foram justamente os setores que também afirmaram estar planejando investimentos.

Também a FGV constatou um quadro semelhante em sua última sondagem, realizada em outubro: os segmentos que hoje têm elevada utilização da capacidade instalada são os que pretendem investir. O economista Aloísio Campelo Jr., coordenador da pesquisa, destaca que as empresas brasileiras têm reduzido seu endividamento e hoje estão capitalizadas, prontas para investir se constatarem essa necessidade.

¿ A sondagem mostrou que, nos setores com maior grau de utilização da capacidade instalada, poucas empresas afirmaram que não poderiam atender a um aumento simultâneo de demanda interna e externa ¿ diz Campelo.

O atual uso da capacidade instalada, de 86,1%, é o maior desde 1977, próximo ao do milagre econômico (1968 a 1973/74). O BC, na ata do Copom, se refere a 1990 porque é a partir daquele ano que há dados mais detalhados por segmentos.