Título: AGÊNCIA DA ONU AUTORIZA BRASIL A ENRIQUECER URÂNIO
Autor: Evandro Éboli
Fonte: O Globo, 25/11/2004, Primeiro Caderno, p. 9

Ministro diz que inspetores da AIEA aprovaram a fábrica de Resende, que poderá funcionar ainda este ano

BRASÍLIA. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) autorizou o governo brasileiro a produzir em escala comercial urânio enriquecido na fábrica da Indústria Nuclear do Brasil (INB), em Resende (RJ). O ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, anunciou ontem que técnicos da agência que inspecionaram as instalações aprovaram o projeto e a unidade poderá entrar em operação.

Mas ainda será necessário o licenciamento de segurança concedido pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), o que deve ocorrer até a primeira quinzena de dezembro.

Com a decisão da agência, o Brasil poderá enriquecer o gás do urânio usado como combustível para as usinas de Angra 1 e Angra 2, responsáveis pela geração de 4,3% da energia utilizada em todo o país. O enriquecimento desse gás é feito hoje na Europa e o custo anual desse procedimento é de US$14 milhões (R$38 milhões).

Somente no segundo semestre de 2005, a unidade de Resende estará produzindo o urânio enriquecido. Com as instalações da INB, o país terá capacidade para produzir urânio enriquecido para suprir 60% da demanda das duas usinas.

Meta é que em 2010 país seja auto-suficiente em urânio

O ministro explicou que ainda serão necessários seis meses de teste para as centrífugas de Resende começarem a rodar. Esta unidade é o primeiro módulo da INB, que irá construir mais quatro. A meta do governo é que em 2010 o país se torne auto-suficiente na produção de todo o urânio enriquecido necessário para mover as duas usinas nucleares. A autorização da agência pode estimular o governo a decidir pela retomada das obras de construção da usina de Angra 3.

- A decisão da agência é importante porque confirma a responsabilidade do programa nuclear pacífico do Brasil - disse Eduardo Campos.

Apesar da autorização, o Brasil ainda precisará enviar o urânio extraído do país para ser transformado em gás no Canadá. A partir do ano que vem, esse gás não precisará ser mais enriquecido na Europa. Vai voltar para o país e, na centrífuga, se transformará na pastilha que move as usinas.