Título: Lindberg e Luizianne reagem à `despetização¿ do Ministério
Autor: Maria Lima e Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 01/12/2004, O País, p. 3

Os novatos Luizianne Lins e Lindberg Farias, prefeitos eleitos de Fortaleza (CE) e Nova Iguaçu (RJ), provocaram a ira da cúpula do PT ontem ao criticar em discursos, no encontro dos prefeitos, a ¿despetização¿ do governo para acomodar aliados. Eles lideraram um movimento pela manutenção dos ministérios do Desenvolvimento Social, da Saúde e das Cidades sob o comando do partido. A idéia era fazer um documento assinado pelos prefeitos reivindicando a manutenção das pastas na cota do PT na reforma ministerial. Vários prefeitos aderiram à proposta, mas a direção do partido acabou abortando-a.

Luizianne reclamou que os aliados não podiam ¿colocar uma faca no pescoço¿ do presidente Lula e exigir ministérios estratégicos para o PT. Lindberg alertou que o uso do Ministério das Cidades como ¿moeda de troca¿ poderia destruir tudo o que está sendo feito por ¿um time de primeira linha comandado pelo ministro Olívio Dutra¿.

¿ A estratégia de 2006 e a reeleição de Lula passam pela ampliação das alianças. Mas entregar o Ministério das Cidades para o PMDB significa desarticular toda uma política já em andamento. Por que o PMDB não vai para o Ministério da Integração Nacional? Não dá para colocar a pasta das Cidades como moeda de troca, pois vem o clientelismo e destrói tudo o que está sendo feito por um time de primeira do PT ¿ disse Lindberg.

¿Seria um equívoco entrar no tema reforma¿, diz Genoino

O movimento foi recebido com críticas pelos dirigentes petistas, que consideraram um equívoco usar o encontro dos prefeitos para tentar influir na reforma ministerial. O presidente nacional do PT, José Genoino, disse que o partido não pode confundir o número de cargos que tem com o seu papel de protagonista no governo.

¿ O presidente Lula está à vontade para fazer os ajustes necessários. Do ponto de vista do partido, seria um equívoco entrar no tema reforma ministerial nesse encontro de prefeitos. As reivindicações são legítimas, mas não significa que são justas. Temos de dividir o poder para valer com nossos aliados ¿ disse Genoino.

Ele ainda alfinetou os prefeitos novatos que levantaram o assunto durante os debates.

¿ A Luizianne vai governar Fortaleza. Vai ter que negociar para construir uma maioria na Câmara, vai negociar com empresários. Vai viver logo logo o que estamos vivendo agora. Como ela vai governar sem maioria? ¿ ironizou.

No fim do dia, três dos ministros que tiveram a permanência defendida compareceram para falar aos prefeitos. Mas não pareceram mais confiantes na permanência no cargo depois das manifestações favoráveis.

¿ Acho legítimo que haja interesse das outras forças que integram o governo no Ministério das Cidades. Se o presidente Lula precisa do ministério, não tenho nem o que falar ¿ disse Olívio Dutra, ao chegar para a palestra que daria sobre o funcionamento de sua pasta.

¿ Há por parte do presidente Lula o reconhecimento do nosso trabalho. Ele tem se mostrado muito satisfeito. Qualquer mudança será por razões políticas ¿ disse Humberto Costa, da Saúde.

O discurso otimista usado na Carta de Brasília começou na noite de segunda-feira, quando todos os ministros petistas e o presidente dominaram a solenidade de abertura do encontro. Os discursos mais inflamados foram feitos pelo chefe da Casa Civil, José Dirceu, e pelo próprio presidente. Em nome do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, que estava na mesa de convidados, Lula defendeu a política econômica e fez uma avaliação muito positiva de seu governo. Ao defender sua equipe, disse que ela está ¿afinada como a Quinta Sinfonia¿.

¿ Vocês vão perceber amanhã, a economia vai continuar crescendo, o emprego vai continuar crescendo. Vocês vão perceber que a nossa dívida vai continuar caindo, não na pressa que a gente gostaria, mas no tempo em que a gente pode fazer ¿ disse Lula, acrescentando que ¿o ritmo afinado¿ de sua equipe tem deixado muita gente nervosa, ¿porque os rapazes estão dando certo¿.

Lula fez ainda um chamado aos companheiros prefeitos para se prepararem para a disputa em 2006.

¿ Agora vamos para o segundo tempo do jogo. Enquanto nossos adversários estão pensando o que fazer para nos derrubar, temos que usar o intervalo para pensar em nossa tática vitoriosa no segundo tempo ¿ disse Lula.