Título: Ordem unida de apoio ao governo
Autor: Maria Lima e Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 01/12/2004, O País, p. 3

A direção do PT e o Palácio do Planalto enquadraram os prefeitos insatisfeitos com os rumos da política econômica e fizeram divulgar documento sobre o encontro realizado em Brasília com apoio explícito e defesa irrestrita das ações do governo Lula, tanto no social como na economia. Ignorando os debates em que os prefeitos, principalmente os de pequenas cidades, cobraram mudanças para melhorar a geração de emprego e renda nos municípios, a direção do PT redigiu a Carta de Brasília na noite de segunda-feira, repetindo o clima triunfalista descrito nos discursos de abertura feitos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo chefe da Casa Civil, José Dirceu.

O tom otimista da Carta não retratou, entretanto, a preocupação de prefeitos, que reclamaram que os bons indicadores econômicos divulgados pelo governo não chegaram ainda à vida do cidadão comum, nos municípios, e que se a cúpula do PT e do governo não admitirem a discussão desse problema, o presidente Lula não será reeleito e o PT enfrentará grandes dificuldades na campanha de 2006.

¿ O PT não pode impedir a discussão desse assunto. Se continuar essa política de concentração de recursos para pagar a dívida, o partido vai entrar em pânico ano que vem. Quem já foi prefeito sabe que a população não se satisfaz só com o trivial, de arrumar um postinho de saúde aqui, ou uma vaga na escola acolá. Tem que gerar renda de fato ¿ discursou o prefeito de Janduí (RN), Salomão Gurgel.

¿ A melhoria dos indicadores econômicos, como o crescimento do PIB por si só, não está refletindo melhoras para a população dos municípios. Tem que haver uma flexibilização do ajuste fiscal para dar um alívio aos prefeitos. O Fome Zero não é um programa de geração de renda. Tem que ensinar a pescar, como por exemplo, investir mais em agricultura familiar ¿ completou o prefeito de Mata Grande (AL), Fernando Lou.

Prefeitos querem ministérios com PT

Vários prefeitos também se manifestaram pela manutenção dos ministérios do Desenvolvimento Social, da Saúde e das Cidades na mão de petistas. A idéia era incluir essa reivindicação na Carta, mas o assunto igualmente foi ignorado. O secretário de Assuntos Institucionais do PT, Paulo Ferreira, um dos três que redigiram o documento, juntamente com os prefeitos de Guarulhos, Elói Pietá, e de Vitória da Conquista, José Raimundo, admitiu que o conteúdo da Carta de Brasília não pretendia, desde o início, ser o resultado do encontro dos prefeitos, mas mostrar a unidade e o apoio ao governo do presidente Lula.

¿ É só pegar o discurso do Zé Dirceu. Metade está ali. Discurso dentro do PT é discurso. O que vale é a resolução ¿ disse Paulo Ferreira.

¿ Essa carta foi escrita ontem, naquele clima de otimismo. Não foi articulada com os prefeitos. Mas nosso recado foi dado e chegará aos ouvidos do presidente ¿ comentou o prefeito eleito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias.

O presidente nacional do PT, José Genoino, disse que a intenção do encontro era reafirmar que o PT defende o avanço das políticas do governo, como mostra a nota.

¿ A prioridade em 2005 é o crescimento e o desenvolvimento. As preocupações de nossos companheiros prefeitos estão contempladas na nota, que mostra que o eixo da política econômica do governo é justamente a agenda do crescimento e da geração de renda ¿ disse Genoino.

Nota fala na ¿grande obra do governo¿

A nota redigida pela cúpula do PT diz que os prefeitos se reuniram em Brasília ¿para expressar o seu entusiasmo com a grande obra que está realizando o governo do presidente Lula, e para melhor integrar as ações das prefeituras com as ações do governo federal¿.

O documento afirma que nunca os programas sociais foram tão abrangentes, como o Bolsa Família, o Fome Zero, o Programa de Saúde da Família, o apoio à agricultura familiar, a ampliação e a qualidade dos programas de assentamento dos sem-terra, o início da reforma democrática da universidade e a multiplicação das vagas acessíveis aos estudantes universitários de baixa renda, a alfabetização. Esse balanção positivo fora feito na véspera por Dirceu.

¿A exitosa política internacional do nosso governo, aproximando o Brasil dos países da América do Sul, da África, do Mundo Árabe, da Índia, da China, guarda enorme correspondência com a política de desenvolvimento nacional, com a política econômica, e com a política de superação das injustiças e de inclusão social. Ela é mais uma manifestação viva do compromisso do Brasil com o seu povo¿, diz a Carta de Brasília.

¿Consideramos o resultado das eleições como uma vitória do nosso modo de governar, construído desde as primeiras prefeituras que conquistamos há mais de 20 anos, e expresso em nossos programas de governo para cada município, levado à população durante o processo eleitoral¿, diz ainda o documento.

Fotos com dupla de baixinho e grandão

O encontro dos prefeitos eleitos e reeleitos do PT começou na noite de segunda-feira e foi encerrado ontem. As grandes estrelas entre os estreantes foram Lindberg Farias (Nova Iguaçu) e Luizianne Lins (Fortaleza). Mas a dupla que chamou mais atenção era formada pelos prefeitos Antonio Luiz Mariani, de Anchieta (SC), e Wagner Chaves, de Itatiauçu (MG). Antonio Luiz, o baixinho, com 1,55m, e Wagner Chaves, o grandão, com 2,11m, pouco participaram dos debates, passaram a maior parte do tempo tirando fotos e falando de venturas e desventuras provocadas pela estatura.

¿ Estamos famosos. Quem sabe assim agora conseguimos uma audiência com o presidente Lula? ¿ sugeriu Toninho.