Título: Estado reconhecerá culpa na morte de guerrilheira
Autor: Evandro Éboli
Fonte: O Globo, 01/12/2004, O País, p. 13

A Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos do governo federal deve aprovar hoje, por unanimidade, a indenização a parentes da ex-guerrilheira Iara Iavelberg e reconhecer a culpa do Estado pela sua morte, ocorrida em agosto de 1971, em Salvador (BA), após uma ação do Exército. Ela morreu aos 27 anos.

O processo de Iara foi indeferido pela mesma comissão em 1998, por quatro votos a três, sob o argumento de que ela se suicidou durante o cerco policial. A relatora do caso, Suzana Lisboa, é a mesma de seis anos atrás. Ela representa parentes de vítimas da ditadura e vai apresentar o mesmo voto: a favor do reconhecimento do papel do Estado na morte.

Uma medida provisória editada este ano incluiu na lei os casos de suicídio provocados por perseguição da ditadura e dos militantes mortos durante passeatas.

Na votação de hoje, até o representante das Forças Armadas na comissão, o coronel da reserva João Batista Fagundes, votará a favor da indenização. Ele disse ao GLOBO reconhecer que Iara foi perseguida pelo regime militar.

¿ Iara Iavelberg deve ser contemplada porque morreu num conflito que a levou ao suicídio. Se aprovamos casos de pessoas que morreram em função de um disparo casual, não há o que contestar no caso de Iara ¿ disse Fagundes.

Em 1998, o então representante militar na comissão, o general da reserva Oswaldo Pereira Gomes, votou contra.

Votaram a favor, além de Suzana, o então deputado e hoje secretário dos Direitos Humanos Nilmário Miranda (PT-MG) e o advogado Miguel Reale Júnior, que foi ministro da Justiça no governo Fernando Henrique Cardoso.

Família quer retirar restos mortais da ala dos suicidas

Iara Iavelberg integrou a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8). Foi a última companheira do guerrilheiro Carlos Lamarca. Em 2003, a família de Iara obteve na Justiça direito de exumar o seu corpo, enterrado no Cemitério Israelita de São Paulo. A mãe e os três irmãos de Iara contestam a versão de que a ex-guerrilheira se suicidou e querem tirar seus restos mortais da ala de suicidas do cemitério judaico. Para os judeus, o suicídio é considerado ofensa e, por isso, o corpo é enterrado de costas e próximo do muro do cemitério, longe do túmulo da família.

A comissão vai votar também o caso do ex-operário Santos Dias, assassinado por policiais militares quando comandava uma manifestação no dia 30 de outubro de 1979 em São Paulo.