Título: Aids cresce entre negros e pardos mais pobres
Autor: Demétrio Weber
Fonte: O Globo, 01/12/2004, O País, p. 14

O Boletim Epidemiológico da Aids 2004, divulgado ontem pelo Ministério da Saúde, revela que a epidemia está crescendo entre a população negra e parda de baixa escolaridade e renda baixa. O boletim mostra que, em 2000, quando foram coletados dados por raça pela primeira vez, 13,2% das mulheres e 11,2% dos homens infectados naquele ano eram negros. No primeiro semestre de 2004, essa proporção subiu para 14,3% e 11,8% respectivamente.

Entre as mulheres pardas, a proporção subiu de 22,4% para 28,1% no mesmo período.

¿ A Aids não é uma doença associada à raça negra, tanto que a maioria dos casos registrados é de gente branca ¿ disse o diretor do Programa Nacional de DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis) e Aids, Pedro Chequer, enfatizando que a população negra de mais baixa escolaridade é mais desinformada e, portanto, mais exposta à doença.

O Ministério da Saúde constatou também que 41.249 casos de Aids estavam fora das estatísticas oficiais da doença no país. A descoberta foi feita a partir do cruzamento de dados oficiais e eleva para 362.364 o número de casos notificados entre 1980 e junho deste ano.

Chequer voltou a defender a quebra de patentes de remédios importados do coquetel anti-HIV. O objetivo é produzir os medicamentos no Brasil, reduzindo custos e garantindo a continuidade do programa brasileiro de distribuição gratuita do coquetel a médio e longo prazos. Segundo Chequer, o governo deve quebrar a patente de três a cinco remédios em 2005.

¿ Se não avançarmos para a auto-suficiência em produção nacional, o programa entrará em colapso ¿ disse Chequer, defendendo que o governo opte pela quebra compulsória de patentes, em que o país paga royalties aos laboratórios estrangeiros, mas fica livre de qualquer negociação.

Epidemia no Brasil tem tendência à estabilização

O boletim mostra que foram notificados 13.844 novos casos de Aids no país até 30 de junho deste ano. Os outros 41.249 casos incluídos na estatística dizem respeito a contaminações em anos anteriores. Do total de 362.364 doentes, 160.834 (44%) já morreram.

Dos 201 mil soropositivos vivos, 151 mil recebem tratamento gratuito do Sistema Único de Saúde (SUS). Este ano, só a compra dos remédios custará R$ 567 milhões, dos quais 80% para a importação de oito medicamentos ¿ os outros sete remédios do coquetel são produzidos no Brasil a partir de moléculas importadas.

O número de casos notificados de Aids deixa de fora pessoas infectadas que ainda não fizeram o teste e, portanto, desconhecem o fato de serem portadoras do vírus HIV. Com base em dados de 2000, o Ministério da Saúde estima que 600 mil pessoas estejam infectadas no país, incluindo aí os casos notificados. Uma nova estimativa será divulgada em março.

O ritmo de novos casos de Aids no Brasil vem caindo entre usuários de drogas injetáveis e homens homossexuais e bissexuais. A incidência entre as mulheres, no entanto, não pára de crescer. Em 1980, a proporção era de 16 homens soropositivos por mulher infectada. Hoje, são apenas dois por uma. Segundo o boletim, a epidemia de Aids no Brasil mantém-se em patamares elevados, mas com tendência à estabilização.