Título: Nas barbas da PF
Autor: Antônio Werneck
Fonte: O Globo, 01/12/2004, Rio, p. 15
Uma ação rápida, silenciosa e profissional. Assim está sendo descrito o furto de um fuzil que estava ilegalmente em poder de um policial federal, guardado num dos armários do alojamento do setor de canil da Superintendência da Polícia Federal no Rio, na Praça Mauá. Aparentemente, a arma foi o único objeto levado por desconhecidos ¿ no mínimo duas pessoas teriam participado do ataque ¿ que invadiram o alojamento na madrugada do último sábado, arrombaram pelo menos oito armários e fugiram sem ser notados. A informação obtida pelo GLOBO desmente nota divulgada pela PF, que afirmou não ter sido comunicado qualquer furto. Por determinação do superintendente, delegado José Milton Rodrigues, foi aberto inquérito para investigar o caso.
¿ Pedi que a Corregedoria da Polícia Federal determine uma investigação. Nós ainda não sabemos a motivação, mas vamos chegar aos responsáveis ¿ disse José Milton.
O episódio é mais um caso grave envolvendo, supostamente, policiais da PF no Rio. O canil fica numa área interna e restrita aos agentes, entre o segundo e o terceiro andar. O lugar tem espaço para abrigar oito cachorros.
Delegado: objetivo é tumultuar ambiente
Os responsáveis pelo arrombamento driblaram a vigilância de agentes lotados na Delegacia de Dia, que vigiam as dependências da PF 24 horas por dia.
¿ É difícil dizer quem possa ter cometido tal crime. Mas as motivações são claras: tumultuar o ambiente na Polícia Federal do Rio ¿ afirmou um delegado, preferindo não ser identificado.
Para chegarem ao local ¿ segundo informações obtidas pelo GLOBO ¿ os responsáveis pelo furto arrombaram o portão do canil e a porta do alojamento. Os armários de madeira tiveram os cadeados arrancados. Outros, de ferro, foram abertos à força. Muitos ainda permaneciam retorcidos ontem. Possivelmente, os autores usaram uma barra de ferro ou algo semelhante. Nenhum armário tem número ou identificação dos seus usuários. O dono do fuzil furtado não registrou queixa. No local havia outros fuzis, pistolas, munição, roupas e objetos pessoais de agentes e delegados lotados no Rio.
O arrombamento foi descoberto na manhã de sábado, mas foi tratado com sigilo pela Superintendência da PF. Na segunda-feira, entretanto, a notícia passou a circular pelos corredores da Polícia Federal.
¿ Muitos policiais só souberam do arrombamento e do furto na segunda-feira de manhã, quando chegaram para trabalhar. Se houve mais alguma coisa furtada, ninguém quis dar queixa ¿ disse um policial federal.
O arrombamento está sendo tratado como mais um capítulo da disputa interna envolvendo policiais da Superintendência da Polícia Federal no Rio. O caso mais grave aconteceu no dia 19 de outubro, quando uma bomba de fabricação artesanal ¿ feita de pólvora, bilhas, bola de gude e papelão ¿ explodiu na sala do Núcleo de Operações da Delegacia de Defesa Institucional (Delinst), onde trabalhavam três agentes. O local também é de acesso restrito a agentes federais. Para Brasília, o episódio é uma reação à nova metodologia de ação que a PF adotou em todo país.
Nos últimos meses, houve uma série de trocas de chefias na superintendência, que teria gerado insatisfação entre funcionários da PF do Rio.
No início da noite de ontem, por intermédio de sua assessoria de imprensa, a Superintendência da PF confirmou o arrombamento, mas não o furto. A nota oficial diz que ¿foram violados alguns armários de aço pessoais numa sala do setor de canil, na sede da SR/RJ, na Praça Mauá¿. Ainda segundo a nota, ¿os armários são de uso particular de policiais, os quais não informaram ter havido furto de qualquer natureza¿. A PF também informou que ¿inquérito policial e sindicância interna foram instaurados para apurar a autoria da violação dos referidos armários¿.