Título: Um PIB de recordes
Autor: Cássia Almeida e Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 01/12/2004, Economia, p. 25

O crescimento da economia brasileira foi robusto e generalizado nos últimos meses. O Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas geradas pelo país) cresceu 6,1% no terceiro trimestre, frente ao mesmo período de 2003. No acumulado do ano, a expansão chega a 5,3%, no melhor desempenho desde 1995, informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Houve aumento de produção em todos os setores da indústria, na agropecuária e nos serviços. O comércio exterior manteve o vigor, os investimentos ganharam fôlego novo e o consumo de famílias se expandiu.

Os números mostram uma sucessão de recordes, que na avaliação dos especialistas pode ser o início do espetáculo do crescimento anunciado pelo presidente Lula. O avanço trimestral de 6,1% foi o maior em oito anos. O consumo das famílias subiu 5,7%, no melhor resultado desde o segundo trimestre de 1997. Os investimentos cresceram 20,1%, a maior taxa desde 1995. A construção civil teve o aumento mais vigoroso desde 1996 e o comércio, com alta de 10,4%, registrou a maior expansão desde o segundo trimestre de 1995.

¿ Houve uma manutenção das taxas positivas de crescimento, porém a um ritmo mais forte ¿ resumiu o gerente de Contas Nacionais Trimestrais do IBGE, Roberto Olinto.

UFRJ e bancos: alta de até 5,3% no ano

A economia brasileira não só registrou uma expansão forte e generalizada no terceiro trimestre, como também vem apresentando, desde o início do ano, um desempenho acima do inicialmente calculado. O IBGE divulgou sua revisão de praxe nos números do primeiro semestre: o PIB cresceu 4,8%, e não 4,2%, como indicava o cálculo anterior. Só nos três primeiros meses do ano, a revisão fez a taxa saltar de 2,7% para 4%.

Apesar da base fraca do primeiro semestre de 2003, os novos números do IBGE surpreenderam os analistas que, agora, estimam resultado melhor para o PIB do ano. O Grupo de Conjuntura da UFRJ elevou sua projeção de 5,1% para 5,3%. O banco WestLB também aposta em 5,3%, contra projeção anterior de 4,6%. O Bradesco subiu a estimativa de 4,5% para 5% e a consultoria MB Associados, que antes previa 4,7%, antevê taxa perto de 5%.

¿ Todas as condições para o crescimento são favoráveis. A inflação está sob controle, as contas externas estão equilibradas, o país tem tudo para crescer ¿ afirmou Francisco Eduardo Pires de Souza, coordenador do Grupo de Conjuntura da UFRJ.

¿ Os números do IBGE são muito bons e mostram que o PIB crescerá ao menos 5% este ano ¿ disse Gustavo Loyola, ex-presidente do BC e sócio-diretor da Tendências Consultoria.

Loyola estima que neste último trimestre, a economia terá expansão entre 1% a 2%, se comparado com o mesmo intervalo de 2003.

No último trimestre, as exportações continuaram em alta, de 18,2%, crescendo a um ritmo superior ao das importações, que ganharam vigor, passando de uma taxa de 14,2% no segundo trimestre para 17,7% entre junho e setembro sobre igual período do ano passado. Ainda sob a ótica da demanda, o consumo das famílias subiu pelo quarto trimestre seguido.

¿ A balança de bens e serviços (comércio exterior) continua favorável e, nos últimos trimestres, o mercado interno reagiu. A massa salarial (total dos rendimentos dos trabalhadores) cresceu 5,3% no último trimestre ¿ destacou Olinto, do IBGE.

Quando se analisa o PIB pela ótica da produção, o grande destaque foi a indústria, com expansão de 7% frente ao mesmo trimestre do ano passado, puxada pela recuperação da construção civil, cuja taxa foi de 11,6%. Chama a atenção o crescimento de 11,4% no recolhimento de impostos no terceiro trimestre. Mas, segundo Olinto, esta taxa resulta do aquecimento de setores como automobilístico e alimentos, que sofrem maior incidência de impostos.

Em relação ao trimestre imediatamente anterior, na série com ajuste sazonal, o PIB cresceu 1%. No segundo trimestre, a expansão havia sido de 1,4% e, nos primeiros meses do ano, de 1,8%. Mas, segundo Olinto, a redução dessas taxas não significa que esteja havendo desaceleração no crescimento, pois a expansão é crescente quando se compara os dados de hoje com o mesmo período do ano passado:

¿ Houve crescimento sobre crescimento, trimestre após trimestre. Não há sinal de desaceleração.

Esse ritmo mais lento foi bem recebido por economistas. Segundo Armando Castelar, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a economia não conseguiria sustentar expansão tão vigorosa como no primeiro semestre:

¿ O crescimento de 1% no trimestre é mais palatável. E o aumento das importações provocou esse freio. Elas cresceram mais que o dobro das exportações.

Castelar também considerou positivo o comportamento do consumo do governo. A queda de 0,2% frente ao trimestre anterior e os resultados anteriores bem próximos de zero ajudaram a fortalecer os investimentos:

¿ Os sucessivos superávits aumentaram a poupança do governo, permitindo a alta no investimento e no consumo das famílias.

Fiesp: um ano de expansão não basta

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, recebeu com satisfação os números sobre o desempenho do PIB divulgados pelo IBGE, mas advertiu que o país precisa bem mais do que um ano de crescimento econômico vigoroso. Para que isso seja possível, Skaf cobrou do governo maior rigor no controle dos gastos e a queda nas taxas de juros:

¿ Um ano de crescimento não basta. Precisamos de décadas de crescimento. E para tanto são necessárias importantes mudanças na política econômica, medidas que tragam maior controle dos gastos públicos, que possam abaixar os juros.

Sobre o desempenho da economia até o terceiro trimestre, Skaf ressalvou que os dados referem-se a um período que ainda não tinha sofrido com os efeitos das recentes altas na taxa básica de juros. O Banco Central começou a subir os juros em setembro, portanto, no fim do terceiro trimestre.